Cada setor tem seu grande evento anual no Brasil. A moda tem a São Paulo Fashion Week, o cinema tem o Festival de Gramado e o agronegócio tem a Agrishow. Este último, que chega à 30ª edição em 2025, é famoso por apresentar as principais tendências do setor.
Empresas nacionais e internacionais expõe suas máquinas agrícolas mais modernas, produtores artesanais servem queijos de primeira qualidade e representantes de destaque no setor debatem o que é importante para o agro no cenário atual. O evento deste ano, que ocorre até a próxima sexta-feira (2) em Ribeirão Preto (SP), tem um elemento a mais: a presença de governadores da direita que estão de olho na Presidência da República em 2026.
O movimento começou ainda no "esquenta" da Agrishow, em um encontro chamado Agrotalk Show 2025, no último domingo (27). A ocasião foi marcada por uma homenagem ao governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD). Ele recebeu um prêmio chamado "Joia do Agro", que reconhece personalidades que se destacam no fortalecimento do agronegócio brasileiro.
Durante seu discurso, Ratinho Junior afirmou que "nos últimos anos, o Paraná redescobriu a sua vocação, que é o agronegócio". Também defendeu que o estado se tornou o "supermercado do mundo, levando alimentos de qualidade para mais de 176 países".
Em uma publicação divulgada após o Agrotalk Show, o governo paranaense justificou a fala de Ratinho Junior com alguns números: em 2024, o estado exportou US$ 5,3 bilhões em soja, US$ 3,8 bilhões em carne de frango in natura e US$ 1,4 bilhão em farelo de soja.
No dia seguinte, Ratinho Junior também foi à Agrishow, e não era mais o único governador com ares de presidenciável caminhando pelo evento. Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, também estavam presentes e apresentaram suas pautas para o setor. E, na terça-feira (29), foi a vez do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Caiado: "Deveríamos estar em uma condição muito melhor"
Caiado adotou uma posição mais crítica sobre o atual momento da agropecuária. “Deveríamos estar em uma condição muito melhor de capacidade de produção. O que vem nos penalizando é exatamente a falta de apoio na área de tecnologia, inovação e pesquisa”, cravou.
O governador goiano também pontuou duas questões que devem ser solucionadas para o avanço do agro: a falta de mão de obra qualificada e a dependência que os produtores têm do seguro rural. "Isso leva ao estrangulamento da atividade, por isso precisamos cada vez mais de boas cabeças e talentos capazes de dar continuidade a esse crescimento do agronegócio no país”, defendeu Caiado. “O Brasil não aceita mais ser um país onde a juventude seja tutelada por programa social.”
Por fim, destacando o uso de ciência e tecnologia, Caiado relembrou a posição de Goiás como um estado relevante para a produção nacional de oleaginosa. “Goiás produz soja num clima de 40 graus, disputando com Paraná, Rio Grande do Sul e estados com clima temperado. Isso mostra o que a ciência e a tecnologia podem fazer”, disse. A expectativa do estado é que a produção agrícola atinja 38,4 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas neste ano.
Zema: "A segurança no campo tem sido uma das nossas prioridades"
Romeu Zema, por sua vez, levou para a Agrishow a pauta da segurança no campo. O estado de Minas Gerais está investindo na inauguração de delegacias rurais. Em fevereiro, por exemplo, abriu uma unidade em Poços de Caldas, que atende 11 municípios e investiga furto de gados e outros crimes patrimoniais.
“Quase todo mês, eu estou no interior de Minas inaugurando alguma delegacia especializada em crimes rurais. A segurança no campo tem sido uma das nossas prioridades”, afirmou. Outro ponto destacado por Zema foi a produção de café e queijo na região.
O governador mineiro acredita que a reputação destes produtos internacionalmente ajuda os produtores a alcançarem uma renda melhor. No ano passado, por exemplo, um café produzido no município de Araponga (MG) levou o troféu de melhor do mundo no Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy.
Tarcísio: "Aqui só tem carnaval verde e amarelo, só tem Abril Verde e Amarelo"
Na Agrishow, Tarcísio de Freitas escolheu anunciar obras de mobilidade em Ribeirão Preto e um pacote de cerca de R$ 600 milhões em investimentos para o agro do estado, incluindo seguro rural e crédito para pequenos e médios produtores. Mas no discurso no evento, o destaque foi para o lado ideológico.
"Aqui não tem carnaval vermelho, Abril Vermelho. Aqui só tem carnaval verde e amarelo, só tem Abril Verde e Amarelo. A gente não vai permitir o tumulto, a algazarra, a falta de segurança jurídica. Defendemos a propriedade privada, porque isso é que faz a diferença", esbravejou.
Tarcísio fez referência a uma série de invasões realizadas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) no ano passado. Na ocasião, os ativistas ocuparam ao menos 24 propriedades, incluindo uma área da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Composta pelos secretários estaduais da Agricultura, Guilherme Piai (Republicanos), e de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, a comitiva de Tarcísio teceu críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, destacando a ausência dele no evento.
Como ficou para Lula?
Em três anos de governo, o presidente Lula renovou a relação conturbada com o evento. Há dois anos, por exemplo, seu ministro do agro cancelou a ida ao evento após saber que o ex-presidente, Jair Bolsonaro, estaria presente. A situação piorou quando, em um discurso, o próprio Lula criticou a Agrishow e indicou que os organizadores do evento seriam "fascistas e negacionistas".
Neste ano, porém, a ausência dele se deu porque o presidente estava fora do país, em viagem para o velório do papa Francisco. Já o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, pulou fora alegando "indisponibilidade". Procurada pela Gazeta do Povo, a assessoria do ministério não deu mais justificativas.
Com ambos fora de cena, sobrou então para o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), representar o governo Lula na Agrishow. Em um momento de incertezas do setor a respeito do Plano Safra, principal programa de crédito do país para a agropecuária, o papel dele foi o de acalmar os ânimos.
"Vamos trabalhar com os ministros Fávaro, Paulo Teixeira [Desenvolvimento Agrário] e Luciana Santos [Ciência, Tecnologia e Inovações] para termos o melhor Plano Safra e poder estimular ainda mais o setor", prometeu. O vice-presidente não mencionou valores em sua fala. A FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio) esteve na Agrishow e revelou o seu desejo: encaminhar ao governo uma proposta de R$ 599 bilhões para o Plano Safra 2025/2026.
“O Plano Safra precisa ser contundente, robusto", afirmou o presidente da FPA, o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR). "Nos orgulhamos do nosso agro, mas temos que reconhecer e superar seus desafios. Eventos como a Agrishow são oportunidades de discutir soluções reais", defendeu.
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