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Marcio Antonio Campos

Marcio Antonio Campos

Vaticano, CNBB e Igreja Católica em geral. Coluna atualizada às terças-feiras

Entrevista

Dom Jaime Spengler: “Pensamos em convidar o papa Leão XIV para vir à COP-30”

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Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB. (Foto: Marcio Antonio Campos/Gazeta do Povo)

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Depois da entrevista coletiva que os cardeais brasileiros concederam no Colégio Pio Brasileiro, nesta sexta-feira, eles também atenderam os jornalistas para pequenas entrevistas exclusivas, em que respondiam a poucas perguntas. Falando à Gazeta do Povo, dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB, disse que pensa em convidar o papa Leão XIV para vir ao Brasil ainda este ano, por ocasião da COP-30 – o então cardeal Robert Prevost já tinha viagem marcada ao país para participar da Assembleia Geral da CNBB, mas o evento fora cancelado devido à morte do papa Francisco.

Nas congregações gerais e na missa Pro eligendo pontifice falou-se muito de unidade. Sabemos que entre os cardeais existem divergências sobre vários temas, como bênçãos para casais homoafetivos, acesso à ordenação sacerdotal, liberação da missa tridentina etc. Como o papa Leão XIV vai construir essa unidade, e em que bases essa unidade tem de ser construída?

A resposta é simples: a unidade só pode ser construída a partir do Evangelho. “Para que todos sejam um”, afirmou Jesus. Quanto a uma questão específica que você mencionou, a da missa tridentina, queria lembrar que o que existe na Igreja hoje é a celebração da Eucaristia segundo o missal de Paulo VI. Em alguns ambientes, o que foi permitido em alguns casos muito especiais foi a celebração do missal renovado por João XXIII. E quem critica a missa de Paulo VI às vezes se esquece de que o rito que nós temos hoje é muito mais próximo às origens do que o próprio rito dito “tridentino”.

Antes mesmo do conclave, todos já sabiam muita coisa sobre os cardeais, o que eles fizeram, o que disseram, e quando saísse o nome já haveria católicos torcendo o nariz, independentemente de quem fosse o eleito. Qual a postura do católico diante da escolha de um papa que talvez não fosse o seu favorito, ou que tenha feito e dito coisas que esse católico desaprova?

A resposta do católico é a perspectiva da fé. Nós cremos e professamos isto: quem escolhe, embora através da mediação humana, é o espírito de Deus. A eleição do papa não é fruto de conchavos ou acordos, digamos, “políticos”. É nesse sentido que devemos compreender a escolha realizada. Um segundo aspecto que às vezes passa despercebido é que uma pessoa como ele não se pertence mais. Não acontece só com o papa: acontece na vida também matrimonial e na vida consagrada. Quando você assume e abraça uma forma de vida, de alguma forma você tem de estar pronto para o que der e vier. Essa abertura de coração, essa disponibilidade, também concede liberdade. Eu gosto de repetir que, quando alguém gosta do que é e ama o que faz, não importa para o que for chamado: ele se dispõe e, nessa disponibilidade, é ajudado, como compreendemos e cremos, pela graça divina.

A CNBB pretende convidar o papa para vir ao Brasil?

Nós já tínhamos convidado o cardeal Prevost para estar conosco na abertura da Assembleia Geral da CNBB que acontece em Aparecida todos os anos, mas a morte do papa Francisco levou ao cancelamento desta edição. Esperamos poder encontrá-lo agora em junho, talvez para uma audiência particular, não tanto em nome da CNBB, mas do Celam [a conferência episcopal da América Latina e do Caribe, que dom Jaime também preside]. Nós temos a COP-30 em Belém e há, sim, uma intenção de ao menos convidá-lo, ou até tê-lo, durante a COP-30. Afinal, o papa teve e tem uma voz autorizada para tratar das questões que envolvem as mudanças climáticas.

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