Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Marcio Antonio Campos

Marcio Antonio Campos

Vaticano, CNBB e Igreja Católica em geral. Coluna atualizada às terças-feiras

Congregações gerais

Depois de 11 reuniões, cardeais seguem dizendo que ainda não se conhecem

cardeal Virgílio do Carmo da Silva
O cardeal Virgílio do Carmo da Silva fala a jornalistas após a congregação geral da tarde de segunda-feira. (Foto: Marcio Antonio Campos/Gazeta do Povo)

Ouça este conteúdo

Depois que a congregação geral da tarde de segunda-feira terminou, um dos pouquíssimos cardeais que aceitaram responder a mais perguntas que o genérico “como foi a reunião, Eminência?” que os jornalistas disparam a cada cardeal que conseguiam encontrar foi o arcebispo de Díli, no Timor Leste. Virgílio do Carmo da Silva disse que cada eleitor tem um perfil de papa que gostaria de ver eleito; brincou afirmando que, sendo esse o seu primeiro conclave, ele esperava que ao menos fosse longo; e afirmou que os eleitores ainda estão se conhecendo. Exatamente o que disseram, no domingo, dois cardeais eleitores brasileiros: dom Jaime Spengler e dom Paulo Cezar Costa.

A reunião da tarde de segunda-feira foi a 11.ª realizada desde a morte do papa Francisco, em 21 de abril. Como já está confirmada mais uma congregação geral na manhã de terça-feira, véspera do início do conclave, serão ao menos 12 – o Vaticano não informou se pode haver uma última reunião na tarde de terça. O número já ultrapassou as oito que precederam o conclave de 2013. Escrevendo na First Things, George Weigel disse que os cardeais nem sequer tinham crachás com seus nomes no início das congregações gerais; eles só foram adotados depois que um cardeal novato interpelou o decano, cardeal Giovanni Battista Re. Weigel ainda ouviu relatos sobre um cardeal que foi incorretamente identificado em vídeo durante sua intervenção em uma das congregações gerais.

Não será uma dúzia de reuniões que irá remediar um problema de anos, especialmente quanto todos os envolvidos estão sob a pressão de cumprir uma das missões mais importantes de um cardeal

Dom Vírgílio, dom Jaime e dom Paulo Cezar são desses novatos: o timorense e o arcebispo de Brasília foram criados cardeais em 2022; o arcebispo de Porto Alegre, em dezembro de 2024. Nenhum deles teve a chance de participar de nenhum consistório extraordinário envolvendo todos os cardeais do mundo, porque o último deles ocorreu em 2015. É claro que não será uma dúzia de reuniões que irá remediar um problema de anos, especialmente quanto todos os envolvidos estão sob a pressão de cumprir uma das missões mais importantes de um cardeal.

Em uma situação dessas, uma possibilidade (embora não a única) é a de os novatos se tornem mais influenciáveis e aceitem sugestões de voto vindas dos veteranos do Colégio Cardinalício. É o tipo de coisa que eu veria como mais provável quanto maior for o medo de que um conclave mais longo – e, para muitos, qualquer coisa acima de dois dias já será longo – seja lido fora da Capela Sistina como um sinal de “desunião” dentro da Igreja, já que muitos cardeais têm abordado o tema da “unidade” em suas falas nas congregações gerais. Mas, se esse for o caso, sinceramente eu não sei quem os cardeais estariam querendo enganar, já que todos sabemos que há muita divisão em torno de vários assuntos, que vão da sinodalidade à comunhão para divorciados em nova união civil, ou a missa tridentina, ou a diplomacia vaticana. Querer eleger rapidamente um papa para demonstrar “unidade” é bobagem.

VEJA TAMBÉM:

Neste último ponto, por exemplo, está um dos calcanhares de Aquiles daquele considerado hoje um candidato forte em todas as listas, o italiano Pietro Parolin. A China, que já vinha desrespeitando o pouco que se sabe sobre os termos do acordo secreto firmado com o Vaticano, desmoralizou de vez a coisa toda ao indicar dois bispos durante a vacância da Sé Apostólica. Esse acordo, que deveria entrar para a história como o grande legado de Parolin, pode acabar prejudicando suas chances de se tornar o próximo papa.

Independentemente do que aconteça nos próximos dias, o próximo papa terá de proporcionar mais ocasiões de convivência entre aqueles que foram escolhidos para serem seus conselheiros mais próximos e os responsáveis pela escolha de seu sucessor. Assim a internacionalização do Colégio Cardinalício fará mais sentido, por exemplo dando aos cardeais de regiões como a Europa e a América do Norte a ocasião de ouvir relatos de primeira mão de seus colegas de regiões mais distantes sobre o estado da Igreja nesses lugares. Assim, quando um novo conclave ocorrer no futuro, que o desconhecimento seja um obstáculo inexistente, deixando mais tempo para as discussões necessárias sobre o futuro da Igreja.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

OSZAR »