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Poucos na mídia brasileira deram atenção ao que aconteceu na Inglaterra, no último final de semana. Um pequeno partido, o Reform UK, ganhou de forma avassaladora as eleições locais, equivalente aqui no Brasil às eleições municipais. Antes um partido populista e de protesto, o Reform UK se firmou como sigla conservadora, ao defender reformas profundas na condução do governo britânico.
Na Inglaterra, existem algumas prefeituras, mas a maioria dos governos locais são conduzidos por conselhos, cujos cargos foram ocupados pelo Reform UK, partido liderado por Nigel Farage, um expoente político com mais de vinte anos de experiência e presença pública. Seu posicionamento é coerente no que se refere à independência, soberania nacional e local, descentralização de poder e proteção da cidadania dos ingleses.
Farage também é contra a enxurrada de imigração ilegal que tem ocorrido na Inglaterra, apesar do Brexit. Aliás, ele foi o grande condutor do Brexit, e um dos líderes na defesa da ideia de que o Reino Unido não precisa participar da União Europeia.
Uma grande proposta liderada por um pequeno partido, mas em consonância com a opinião de boa parte da população, que não se sente representada no parlamento por nenhum dos grandes partidos.
Infiltração na direita
Tradicionalmente, a direita era representada pelo Partido Conservador, que até pelo nome poderia atender aos anseios dos britânicos. Entretanto, já há algum tempo ele está diametralmente na contramão da direita.
Nas últimas décadas, os conservadores se converteram em centrão: contentam-se em representar o estamento burocrático, a condução dos temas de forma passiva e de não confrontação da agenda da esquerda.
Em outras palavras, ao invés de combater a esquerda, a postura condescendente dos primeiros-ministros conservadores recentes, como David Cameron, Theresa May, Boris Johnson, Liz Truss e Rishi Sunak, fez mais pela agenda esquerda globalista do que muitos da própria esquerda. Essa virou a tendência do Partido Conservador Inglês – infiltrado por social-democratas.
É bom lembrar que o Partido Trabalhista, o chamado Labour Party, é liderado pelo primeiro-ministro Keir Starmer, no cargo desde 2024. É um partido de esquerda, que alternou com os conservadores no comando do parlamento inglês durante quase todo o século 20 e uma parte do século 21, com suas propostas sindicalistas, de apoio aos trabalhadores e defesa da estatização.
Com a falência dessas ideias ultrapassadas e sem nenhuma aderência, os trabalhistas se alinharam aos globalistas para defender a adesão à União Europeia e às pautas de imigração, gênero e meio ambiente, postura que gerou efeito negativo e rejeição da população inglesa.
A culpa foi do centrão inglês
Na verdade, o principal responsável pela eleição do socialista Starmer foi o próprio Partido Conservador. Em 2019, Boris Johnson, candidato do Partido Conservador, foi eleito primeiro-ministro por ampla maioria, e sua popularidade era comparável à de Margaret Thatcher, nos anos 80. Sua principal promessa de campanha era implementar o Brexit, que havia sido aprovado por referendo popular. Mas demorou demais, pois o próprio Partido Conservador não queria o Brexit.
Ignorando a vontade da população, que se manifestou pelo Brexit em plebiscito, Boris Johnson retardou a aprovação do projeto, e no meio de seu mandato entregou-se às forças globalistas, que dominavam a opinião pública de Londres, epicentro político de muitos interesses internacionais. Tal atitude foi um retrocesso ao que era o Partido Conservador anterior a Thatcher.
Sob o comando dos conservadores, o Brexit, que deveria ser ponta de lança para profundas reformas e liberdade econômica, se rendeu à burocracia do estado e não conseguiu conter a inevitável inflação
É bem verdade que os escândalos de festas com participação de Johnson, em plena época da Covid 19, colaboraram para sua queda de popularidade, mas, diferentemente do Brasil, a Inglaterra se atém muito mais às pautas econômicas.
Os sucessores de Johnson, Liz Truss e o indiano Rishi Sunak, ambos do Partido Conservador, não conseguiram conter o avanço inflacionário, alinharam-se à esquerda em diversas pautas globalistas, em uma clara demonstração de colaboracionismo e ainda rotularam o Reform UK como estranho à direita. Resultado: em 2024, abriu-se o flanco para os trabalhistas voltarem ao poder que tinham perdido desde 2010, graças à frouxidão do conservador que virou centrão.
Quem porta a bandeira da direita vence
Nesta eleição para o poder local, chamada de intercalar, os socialistas e centrão perderam e o Reform UK subiu para se tornar o maior partido de representação local. Um crescimento brutal e uma mensagem clara de que o inglês quer conter a sanha socialista que assola a Grã-Bretanha e os Conservadores não são o caminho para esse fim.
Nessas eleições locais, o Reform UK, que antes era um pequeno partido, ganhou corpo e aumentou sua influência. Agora, como a maior força política da Inglaterra, percebem como a coerência ideológica foi fundamental.
Qual a mensagem da Inglaterra para o Brasil?
Essa mesma dinâmica coletiva vai se repetir aqui. A população preferiu votar em quem tinha propostas claras, em vez de apostar em candidatos com postura obscura.
Precisamos entender que os incentivos coletivos geram reações coletivas. Temos uma similaridade com o processo britânico: os partidos do centrão estão perdendo, a exemplo dos conservadores ingleses, franceses, alemães, etc., e sendo substituídos pelos partidos de direita mais vinculados à opinião pública.
Embora ainda aleguem ser de direita, partidos que compõem esse centrão brasileiro não querem refutar a ideologia nem entrar em confronto com a agenda da esquerda, muito menos debater de forma contundente projetos abusivos de parlamentares socialistas.
A missão é clara: fazer reformas é a prioridade e não basta só ocupar espaços. Não é apenas vencer uma eleição, mas ser contundente e promover mudanças de fato
Se isso não acontecer, será dada mais uma vitória para a esquerda e ficará a esperança de que no futuro apareça algum partido que represente com coerência as aspirações dos brasileiros por mudanças.
Precisamos reformar todas as instituições, passando pelo Judiciário, sistema eleitoral, previdência e muitas outras, travadas na Constituição que, aliás, também precisa ser alterada. Possivelmente deve ser criada uma nova Constituição.
Voltando ao prognóstico para o Brasil, se o centrão, nessa altura, assumir qualquer protagonismo, a esquerda continuará no poder indefinidamente. O centro é mero condutor de uma massa falida, que precisa ser reformada, e com esse pessoal do centrão nada vai mudar. Essa verdade política do velho mundo terá seus reflexos aqui se a verdadeira direita não assumir as necessárias reformas.
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Conteúdo editado por: Aline Menezes