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Já com dois volumes lançados no Brasil pela Faro Editorial, a coleção “Thomas Sowell Essencial” reúne uma seleção dos textos mais relevantes escritos ao longo de décadas pelo economista e cientista social americano, entre artigos, ensaios acadêmicos e colunas de jornal.
O primeiro volume, “Sociedade, Economia e Política” abordou temas como Justiça, impostos, educação, cultura e o papel dos intelectuais. Mas é no recém-lançado segundo volume, “Leis, Raça e etnia, Educação” que Sowell defende as ideias mais polêmicas, desafiando, na contramão do discurso hegemônico, teses confortáveis e politicamente corretas sobre raça, diversidade e multiculturalismo.
Sobretudo em períodos de polarização política, a leitura de Thomas Sowell reafirma a importância do pensamento independente e da responsabilidade individual como pilares de uma sociedade saudável. Com argumentos controversos e desconcertantes, mas sempre baseados em dados, Sowell convida o leitor a olhar além das emoções e focar na realidade e questionar ideias estabelecidas.
Seu pensamento funciona, portanto, como antídoto ao conformismo ideológico. Mesmo quem não concorda com suas ideias se sente impelido a um exame mais profundo das intenções e consequências do consenso progressista e das políticas identitárias contemporâneas.
Comento a seguir algumas das frases mais impactantes de Thomas Sowell sobre desigualdades, multiculturalismo e diversidade.
Raça e desigualdade
“O racismo não é a causa de todas as disparidades econômicas entre grupos raciais.”
Sowell rejeita a explicação unidimensional do racismo para as desigualdades econômicas entre grupos raciais, destacando fatores como cultura, educação e escolhas pessoais. Ele cita o caso dos asiáticos-americanos, que apresentam 54% de graduação universitária nos Estados Unidos, contra 33% da média da população americana.
As disparidades entre grupos são multifatoriais, e atribuir todas as diferenças socioeconômicas ao racismo ignora variáveis como capital cultural, decisões familiares, geografia e diferenças educacionais.
“A palavra ‘racismo’ foi tão usada que perdeu quase todo o seu significado.”
Sowell critica o uso indiscriminado do termo “racismo”, que dilui cada vez mais a gravidade do preconceito e diminui seu poder de mobilização, sobretudo nos ambientes acadêmico, midiático e político.
A banalização da palavra cria um problema linguístico e moral, porque, quando tudo é considerado racismo, nada é racismo. Essa inflação semântica dificulta a identificação de situações em que o racismo é real. A solução proposta não é evitar o termo, mas usá-lo com rigor conceitual e evidências consistentes.

“O racismo não está morto, mas está sendo mantido vivo por políticos, oportunistas raciais e pessoas que se sentem superiores ao denunciar outros como racistas’”
Sowell sugere que o racismo acaba sendo perpetuado por interesses políticos e moralismo woke: acusações de preconceito muitas vezes servem a agendas políticas, e certos atores mantêm vivo o discurso do racismo para obter ganhos pessoais, ou para perseguir desafetos.
O autor denuncia a “indústria da vitimização” e afirma que é preciso distinguir entre o racismo real e as estratégias de manipulação retórica que se apropriam do tema. Ele também argumenta que culpar “a sociedade” por desigualdades enfraquece as responsabilidades individuais, porque os verdadeiros racistas se diluem na coletividade de um vago “racismo sistêmico”. Isso enfraquece a eficácia do combate ao preconceito.
A diversidade como ideologia
“As pessoas não são iguais, nem em suas capacidades, nem em suas aspirações, nem em seus resultados.”
Pessoas têm talentos, interesses e motivações distintos, o que naturalmente leva a resultados variados. Reconhecer a desigualdade é essencial para entender as dinâmicas sociais e econômicas. Sowell defende o mérito individual e a liberdade: tentar forçar resultados iguais entre desiguais é injusto e ineficiente.
Ele critica, portanto, políticas que buscam igualdade de resultados, ignorando diferenças inatas e escolhas pessoais. Mas reconhece que o desafio está em equilibrar o reconhecimento das diferenças individuais com políticas que ampliem oportunidades.
“Da próxima vez que algum acadêmico disser como a diversidade é importante, pergunte quantos republicanos há no departamento de sociologia dele.”
Sowell ironiza a contradição entre o discurso da diversidade e a ausência de pluralismo ideológico no ambiente universitário, no qual é evidente a crescente intolerância a visões conservadoras. Estudos mostram que somente 15% dos professores de Sociologia nos Estados Unidos são conservadores, o que expõe a hipocrisia da narrativa progressista. A verdadeira diversidade deve incluir ideias divergentes, não apenas características identitárias.
O multiculturalismo desvaloriza as conquistas ocidentais, enquanto relativiza práticas problemáticas de outras culturas em nome da tolerância
“A celebração da diversidade tornou-se um substituto para o desempenho.”
Empresas com diversidade, mas sem desempenho, fracassam. Sowell ataca a tendência a substituir critérios objetivos – como produtividade, inovação e resultados – por critérios simbólicos ligados à identidade de grupo, o que fatalmente leva à mediocridade. A crítica não é à diversidade em si, mas à maneira como ela tem sido aplicada, como um fim em si mesma.
Multiculturalismo e relativismo cultural
“A ideia de que todos os grupos devem estar igualmente representados em todas as áreas ignora a realidade das preferências culturais.”
Sowell critica o que chama de “engenharia social”, contestando a obsessão pela representação proporcional. Desmonta, assim, a ideia de proporcionalidade como critério de justiça, pois é natural que diferentes grupos tenham distribuições desiguais em profissões, esportes e hobbies diferentes, devido a fatores culturais, familiares e históricos. Forçar a igualdade de representação seria ignorar essas nuances.
“O que o ‘multiculturalismo’ realmente significa é que você pode elogiar qualquer cultura do mundo, menos a cultura ocidental — e não pode criticar nenhuma cultura, exceto a ocidental.”
Sowell denuncia a hipocrisia do multiculturalismo, que idealiza culturas não ocidentais enquanto critica o Ocidente. O multiculturalismo virou um instrumento ideológico que desvaloriza as conquistas ocidentais, enquanto relativiza práticas problemáticas de outras culturas em nome da tolerância. Ele cita, por exemplo, a relutância dos progressistas em criticar práticas opressoras em algumas culturas, em função do viés seletivo presente no discurso multicultural. Esse duplo padrão moral impede o debate honesto e promove a culpabilização unilateral.
“A ideia de que todas as culturas são igualmente válidas é uma crença — não uma conclusão baseada em evidências.”
Sowell desafia o relativismo cultural, argumentando que nem todas as culturas produzem resultados iguais. Ele cita o sucesso de culturas que valorizam a educação, como a judaica. Segundo ele, culturas produzem diferentes resultados econômicos, sociais e institucionais, e esses dados não podem ser ignorados em nome da tolerância. A ideia é provocadora, pois desafia o multiculturalismo incondicional.
“Chegamos ao estágio final do absurdo, no qual algumas pessoas são responsabilizadas por coisas que aconteceram antes de nascerem, enquanto outras não são responsabilizadas pelo que estão fazendo hoje.”
Sowell critica a lógica de reparações históricas e à cultura da culpa herdada imposta a indivíduos. Ele defende uma ética da responsabilidade pessoal, e não da culpa coletiva: a justiça deve se basear em ações individuais no presente, não no comportamento de ancestrais. Quando a reparação de injustiças históricas se transforma em ferramenta de julgamento moral indiscriminado, ela se transforma em ferramenta ideológica, em vez de combater o preconceito.
Conteúdo editado por: Aline Menezes