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Em sua definição mais simples, a palavra “desindustrialização” significa a extinção de empresas industriais nacionais em magnitude tal que faça o Produto Interno Bruto (PIB) do setor industrial diminuir ano a ano, de forma a perder participação no PIB total do país.
Esse processo tem origem na incapacidade das empresas industriais nacionais em continuarem competindo com empresas estrangeiras, por ter se tornado mais barato importar, inclusive perdendo capacidade de exportar.
A indústria como um todo faz parte do setor secundário, que é composto pela indústria de transformação (aquela que transforma matérias-primas em bens de consumo e bens de capital), construção civil, energia, água e saneamento.
Desde os anos 1970, empresários e suas entidades de classe vêm dizendo que a desindustrialização se revelou um fato no Brasil e que, do jeito que a economia brasileira está montada, esse processo se tornou inevitável, mas não irreversível.
A indústria nacional não é competitiva nos setores de tecnologia moderna e sofisticada, salvo uns poucos ramos
Estatísticas divulgadas depois da pandemia informaram que a produtividade da indústria brasileira (produção por hora de trabalho) nos últimos 40 anos cresceu medíocres 0,6% ao ano, justamente no período em que o mundo explodiu em tecnologias e inovações que revolucionaram a atividade industrial.
Quando olhamos a indústria brasileira, alguém pode argumentar que a agroindústria e o agronegócio como um todo cresceram e se tornaram bom exemplo para o mundo. É verdade; porém, sobre isso, há de considerar dois aspectos.
O primeiro aspecto é que o agronegócio é composto essencialmente por ramos produtivos cujas matérias-primas vêm da terra e outros recursos naturais abundantes e de qualidade. É o caso dos alimentos que dependem de terras férteis, clima adequado, abundância de água e extensão territorial.
O segundo aspecto é que o sucesso do agronegócio foi favorecido por vantagens comparativas adjacentes. Ou seja, uma fábrica de óleo de soja brasileira tem vantagem porque a matéria-prima é produzida no mesmo território onde está a fábrica. O Japão, se quiser fabricar óleo, tem de comprar a matéria-prima do Brasil, da Argentina ou dos Estados Unidos.
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Nessa linha, se excluirmos os setores em que o Brasil tem vantagens comparativas adjacentes, a indústria brasileira de outros setores tem produtividade baixa e não crescente. A consequência é que a indústria nacional não é competitiva nos setores de tecnologia moderna e sofisticada, salvo uns poucos ramos.
O planeta está com 8,2 bilhões de habitantes, pode chegar a 9,4 bilhões até 2050, mas em 50 ou 60 anos a população global deve cair para 4,7 bilhões, ou seja, metade do que será em 2050. Ainda que a população mundial reduza as desigualdades de renda, o consumo mundial de produtos do agronegócio tem previsão de queda.
Caso esse cenário venha a ocorrer, como indicam as previsões da ONU e do Banco Mundial, a agroindústria brasileira pode acabar diminuindo em termos relativos e, assim, levar a indústria nacional como um todo a não prosperar.
Vale ressaltar que o Brasil melhorou em alguns poucos setores industriais, porém longe do que seria desejável para o parque industrial de um país como o nosso. Melhorar esse quadro exigiria extirpar as desvantagens enfrentadas pelo setor industrial, entre as quais destacam-se: a elevada carga tributária; o precário sistema de transporte (fundado essencialmente em rodovias); os portos envelhecidos, insuficientes e atrasados em tecnologia; o gargalo na capacidade de armazenamento; e as taxas de juros elevadas.
O Brasil melhorou em alguns poucos setores industriais, porém longe do que seria desejável para o parque industrial de um país como o nosso
Neste segundo trimestre de 2025, o quadro internacional tornou-se mais inseguro e menos propício ao crescimento industrial. O governo Trump resolveu que precisa recuperar a indústria interna dos Estados Unidos e, para tanto, anunciou um pacote de tarifas sobre importações, que tornarão o produto importado mais caro.
O que o governo Trump quer é criar estímulos para implantação e expansão de empresas industriais americanas, inclusive por razões de segurança nacional, pois, se o mundo entrar em um conflito e alguns países deixarem de fornecer produtos estratégicos aos Estados Unidos, a economia americana entra em colapso.
Aqui vale uma palavra sobre o livre comércio: a ampla liberdade de comércio exterior somente faz sentido se todas as nações envolvidas adotarem os mesmos procedimentos, as mesmas tarifas e as mesmas políticas de comércio exterior. Não sendo assim, o livre comércio em um só país se torna inviável.
O mundo está diante de mudanças profundas e praticamente numa guerra de tarifas. Não importa o que ocorra, o comércio internacional não retornará ao estágio anterior ao conjunto de tarifas aplicadas pelos Estados Unidos. É nesse cenário de mudança no panorama global que o Brasil terá de decidir o que quer de sua política industrial.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos