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Entrelinhas

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Entrevista

“Engavetar a anistia é traição”, aponta Bia Kicis

(Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

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Deputada federal pelo Partido Liberal do Distrito Federal (PL-DF), Bia Kicis é uma das principais vozes da oposição ao governo Lula na Câmara dos Deputados. Ex-procuradora e aliada do ex-presidente Jair Bolsonaro, ela tem atuado na defesa do Projeto de Lei da Anistia e na denúncia do que considera perseguição política contra conservadores.

Nesta entrevista, Kicis comenta a dificuldade de destravar a proposta de anistia e o escândalo envolvendo o chamado "roubo dos aposentados". Kicis colocou seu nome à disposição do PL para disputar o Senado em 2026, mas ainda aguarda resposta do diretório nacional.

Entrelinhas: Apesar de ter ultrapassado o número mínimo de assinaturas para ser protocolado com urgência, o PL da Anistia foi engavetado na Câmara dos Deputados. Qual é a sua opinião sobre a postura do presidente da Casa, Hugo Motta, em relação a esse projeto?

Deputada Bia Kicis: É um momento de angústia e tristeza. Ver o presidente da Câmara agir de forma covarde e desrespeitosa com os parlamentares é lamentável. A gente tentou inicialmente colher assinaturas dos líderes, mas eles estavam sendo pressionados. Então partimos para colher assinaturas individualmente, sob a liderança do deputado Sóstenes Cavalcante. Conseguimos mais do que o mínimo necessário e, mesmo assim, o projeto está engavetado. Isso é uma traição.

Entrelinhas: De que forma o debate sobre a anistia tem sido bloqueado?

Bia Kicis: Estão impedindo qualquer movimento que possa desagradar ao STF. Agora temos dois poderes — Executivo e Judiciário — unidos contra o Legislativo. O Parlamento está impedido até de discutir um tema tão importante quanto o da anistia. Isso é inaceitável.

Entrelinhas: Sobre o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de Débora Rodrigues, condenada pelo 8 de janeiro, como a senhora analisa os votos dos ministros Luiz Fux e Cristiano Zanin, que divergiram do relator do caso, Alexandre de Moraes?

Bia Kicis: Com muita preocupação, com muita angústia. Apesar da divergência, o ministro Fux condenou a Débora por deterioração de patrimônio público, mas ela não deteriorou nada. Ela pichou, limpou, saiu. Pichadores não são presos, não são condenados. Quando muito, têm que entregar uma cesta básica, fazer uma ação social. Já o Zanin pesou na caneta sugerindo onze anos para a Débora.

Entrelinhas: A senhora acha possível que a pena dela seja recalculada?

Bia Kicis: Eles vão ter que chegar a uma média entre essas penas, mas a pergunta é: vão mandar a Débora de volta para a cadeia? Vão tirá-la de novo de perto dos filhos pequenos, da família? Ela já ficou presa por dois anos e treze dias. Isso mostra que farão de tudo para manter viva a narrativa do golpe.

Entrelinhas: A senhora acredita que há uma motivação política nesses julgamentos?

Bia Kicis: Total. O objetivo é atingir o Bolsonaro. Todas essas pessoas estão recebendo esse tratamento para fortalecer a narrativa contra ele. Se não condenam os outros, essa narrativa enfraquece. É por isso que seguem com essas penas absurdas.

Entrelinhas: Quais são, na sua visão, os maiores problemas envolvendo essas prisões?

Bia Kicis: Tem gente pagando por crimes que não cometeu. Pessoas morreram. Patriotas saíram da prisão com a saúde em frangalhos e não resistiram. Teve um que morreu na prisão, por culpa direta do Alexandre de Moraes, que se recusou a assinar um despacho de libertação, mesmo com recomendações médicas e parecer da Procuradoria-Geral da República.

Entrelinhas: Diante disso, qual sua mensagem aos apoiadores, que ainda se organizam em manifestações como a que acontece nesta quarta-feira?

Bia Kicis: É gravíssimo e sei que muitos ficam desanimados. O nível de crueldade não tem limite. Basta ver o que fizeram com o Bolsonaro, sendo citado e intimado dentro de uma UTI. A guerra nunca é fácil. Cada batalha é sofrida, mas não podemos desanimar.

Entrelinhas: Gostaria que a senhora comentasse também o escândalo no INSS, que envolve cifras bilionárias. Ainda é possível acreditar em combate à corrupção no Brasil?

Bia Kicis: Em primeiro lugar, é caso de polícia. A polícia está atuando, e esperamos que puna todos os responsáveis. Mas temos pouca razão para acreditar nisso, porque neste país só é punido quem fala, quem opina, quem critica ministros.

Entrelinhas: O Psol propôs que o rombo seja coberto com impostos. O que pensa disso?

Bia Kicis: É uma ideia ridícula. Querem que o pagador de impostos arque com esse absurdo. Isso é dinheiro dos aposentados, das pessoas que contribuíram esperando um mínimo de sossego na velhice. E não é novidade. Nos governos Lula e Dilma, vimos isso: roubo nos fundos de pensão, nas estatais, no próprio INSS. Agora voltaram a saquear. Na Câmara, e espero que no Senado também, vamos continuar trabalhando para tentar minimizar esses problemas. Vamos juntar forças contra a corrupção. Mas, repito: é caso de polícia. Não

Entrelinhas: Como deve ser o cenário para o Senado no Distrito Federal em 2026? A senhora pretende disputar uma vaga?

Bia Kicis: É claro que a esquerda vai ter seus candidatos, talvez se unam em torno de um nome só, mas, aqui no Distrito Federal, a direita é mais forte. Eu tenho pretensão, sim, até porque fui a deputada mais votada do DF e proporcionalmente do Brasil, com dois mandatos relevantes. Recebo muito esse pedido dos eleitores para ir ao Senado. Bolsonaro lançou a ideia do nome da ex-primeira-dama Michele e o governador Ibaneis Rocha também disse que é candidato. São três nomes fortes para duas vagas. Eu coloquei meu nome à disposição — não lancei candidatura, porque isso depende do PL nacional —, mas vamos ver o que a população quer. Ainda tem muita água para correr.

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