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Trocas na Esplanada

Sem interesse do Centrão, reforma ministerial de Lula vira “faxina” de crises

Lula reforma ministerial
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: EFE/Andre Borges)

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Discutida dentro do Palácio do Planalto desde o final do ano passado, a reforma ministerial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) virou, até aqui, apenas trocas para tentar minimizar as diversas crises dentro do governo. As mudanças ocorrem, principalmente, dentro do PT e em meio ao desinteresse do Centrão em ocupar espaço na Esplanada dos Ministérios de olho na disputa presidencial de 2026.

Nesta segunda-feira (5), Lula nomeou Márcia Lopes para o Ministério das Mulheres, substituindo Cida Gonçalves, que estava à frente da pasta desde o início do governo. Ambas são quadros do PT e a substituição já vinha sendo ventilada dentro do Planalto, pois o presidente já havia sinalizado um descontentamento com a gestão de Cida no ministério. A agora ex-ministra também chegou a ser alvo de denúncias de assédio moral contra servidores da pasta, mas nega as acusações.

Já Márcia Lopes é irmã de Gilberto Carvalho, ex-ministro da Secretaria-Geral e figura influente no entorno do presidente. Segundo assessores do Planalto, a intenção de Lula é reagrupar sua base histórica em meio a um ambiente de crescentes pressões internas e externas. 

A troca também tem relação direta com a tentativa de Lula de recuperar o apoio do eleitorado feminino, mirando a eleição presidencial de 2026. Em abril, uma pesquisa da Quaest apontou que, pela primeira vez, a desaprovação do petista entre as mulheres superou a aprovação. 

Segundo o levantamento, 53% das mulheres desaprovam o governo Lula, um crescimento de seis pontos percentuais em relação a janeiro, quando esse índice era de 47%. Já a aprovação caiu seis pontos e está em 43% - antes era 49%.

A pesquisa Quaest foi encomendada pela Genial Investimentos e realizada entre os dias 27 e 31 de março. Foram entrevistadas 2.004 pessoas de 16 anos ou mais em todo o Brasil. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. 

Por ser uma figura enraizada no PT e com trânsito junto aos movimentos sociais, a expectativa entre os governistas é de que Márcia Lopes consiga ampliar a visibilidade das políticas do governo voltadas para o eleitorado feminino. “Assumo essa missão com humildade, coragem e o compromisso de toda uma trajetória dedicada à justiça social, à defesa dos direitos humanos e à construção de políticas públicas que transformam vidas, especialmente a vida das mulheres neste país”, escreveu Márcia em suas redes sociais.

Além dessa troca, Lula fez mudanças a conta-gotas em outros postos que eram ocupados pelo PT. Em janeiro, o petista demitiu Paulo Pimenta da Secretaria de Comunicação Social (Secom) e escalou o marqueteiro Sidônio Palmeira para o posto. Na sequência, demitiu Nísia Trindade do Ministério da Saúde e transferiu Alexandre Padilha da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) para a pasta. Para o lugar de Padilha na SRI, o presidente escolheu Gleisi Hoffmann.

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Crises e escândalos aceleram mudanças em meio ao desinteresse do Centrão 

Crises e escândalos ao longo das últimas semanas acabaram pressionando Lula a fazer mudanças em seu governo. Na última sexta-feira (2), por exemplo, Carlos Lupi acabou pedindo demissão do Ministério da Previdência após a Polícia Federal revelar as fraudes e irregularidades dos descontos associativos em contas de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que lesaram milhões de brasileiros desviando cerca de R$ 6,5 bilhões.

A manutenção de Lupi no cargo era vista dentro do Planalto como intensificador do desgaste para o governo, mas Lula vinha bancando o ministro no cargo diante das ameaças de desembarque do PDT da base do governo na Câmara. Para tentar minimizar os efeitos, um acordo acabou viabilizando a demissão do ministro com a indicação de Wolney Queiroz, também integrante do partido de Lupi. A ideia era manter o apoio do PDT ao governo.

“Estamos conversando com as lideranças do partido [PDT] para superar essa situação envolvendo a Previdência. É um partido fundamental na nossa base [aliada]”, disse a ministra Gleisi Hoffmann em entrevista à CNN Brasil

"O PDT é um aliado histórico. Vamos fazer todo esforço para que estejam conosco em 2026. Acredito que estarão", completou Hoffmann.

A oposição tenta agora demonstrar que Wolney Queiroz teria recebido as mesmas informações sobre fraudes enviadas a Lupi e também não tomou providências.

Antes do episódio com Lupi na Previdência, Lula também precisou aceitar o pedido de demissão de Juscelino Filho do Ministério das Comunicações, após ele ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeitas de desvios de emendas parlamentares. A indicação de Filho era do União Brasil e o presidente chegou a anunciar o líder da bancada na Câmara, deputado Pedro Lucas (MA), para ocupar o ministério. 

Contudo, Pedro Lucas acabou negando o convite e optou por seguir liderando a sigla na Câmara. O episódio ampliou a fragilidade do apoio do partido ao governo e Lula acabou aceitando a indicação de Frederico de Siqueira Filho, feita pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (UB-AP), para o cargo. 

Alcolumbre é hoje o principal elo de sustentação entre o União Brasil e o Palácio do Planalto. Além de ser o padrinho político do escolhido para o ministério das Comunicações, o presidente do Senado também foi responsável pelas indicações de Waldez Goés na pasta de Integração e do Desenvolvimento Regional e de Celso Sabino no Turismo. 

Em processo de formação de federação com o Progressistas (PP), a ala de oposição dentro do União Brasil pretende seguir pressionando por um desembarque do governo Lula de olho na disputa de 2026. Vice-presidente da sigla, ACM Neto, ex-prefeito de Salvador, inclusive defende diálogo com o ex-presidente Jair Bolsonaro para a composição de uma chapa de direita para a disputa presidencial.

"Bolsonaro é um personagem político com um tamanho e densidade eleitoral inegável no campo da direita. Ninguém pode querer construir um projeto de enfrentamento ao PT sério, competitivo e vitorioso sem considerar isso. Tem que considerar o peso e o tamanho de Bolsonaro, é preciso dialogar", defendeu ACM Neto. 

Já o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que tenta se viabilizar como candidato a presidente, defendeu que o desafio da federação com o PP será viabilizar uma candidatura de oposição ao PT. "É isso que precisamos nesse momento, da classe política entender o recado que deve ser dado. Hoje nessa federação dos dois grandes partidos, que transferem a todos nós a responsabilidade sobre nossos ombros de sabermos ganhar o processo eleitoral de 2026. Esse é o desafio, estamos aqui construindo um novo rumo para o país", disse Caiado. 

Preterido por Lula, PSD espera viabilização de Tarcísio em 2026 

Ainda no Centrão, o PSD também vê crescer entre seus integrantes o descontentamento junto ao governo Lula. Atualmente, a sigla comandada por Gilberto Kassab ocupa três ministérios, sendo dois de indicações do Senado e um pela Câmara. 

O principal impasse acontece entre os deputados, que avaliam que o Ministério da Pesca, comandado por André de Paula, tem pouca expressividade e vitrine de entregas. A expectativa de parlamentares era de ser contemplado na reforma ministerial de Lula, mas até o momento não houve nenhuma sinalização por parte do petista.

Neste cenário, parlamentares do PSD passaram a defender nos bastidores uma nova postura diante do governo. Se antes tinham uma predisposição com pautas enviadas pelo Planalto, agora se dizem desobrigados a fazer gestos à Presidência. 

Paralelamente, Kassab é um dos principais entusiastas de uma eventual candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à Presidência em 2026. Neste cenário, o presidente do PSD negociaria o apoio do seu partido ao governador paulista.

“Hoje tem uma safra boa de políticos. O Tarcísio está à frente, e o projeto que ele apontar, eu estarei. Ele é o caminho. Evidente que meu partido irá integrar, qualquer que seja o caminho que ele apontar, vou estar do lado. Nós estaremos com ele, confiamos nele”, disse Kassab, durante um debate promovido pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) na semana passada.

Uma eventual candidatura de Tarcísio de Freitas, no entanto, depende do aval de Jair Bolsonaro. Apesar de estar inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente tem se colocado como único candidato da direita e do seu grupo para 2026. Tarcísio vem declarando seu apoio a Bolsonaro e reconhecendo que sua carreira política foi impulsionada pelo cargo de ministro em seu governo.

 

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