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Acabou o tempo em que Lula conseguia ser a estrela principal dos grandiosos eventos organizados pelas centrais sindicais para comemorar o Dia do Trabalho. Assim como o próprio movimento sindical, cada vez mais esvaziado e distante da realidade dos brasileiros, o presidente já não mobiliza nem se aproxima da população como antes. Após o fiasco de 2024, quando discursou para uma minúscula plateia de apenas 1.635 pessoas reunidas no estacionamento da Arena do Corinthians, na zona leste de São Paulo – segundo estimativa do "Monitor do Debate Político", da Universidade de São Paulo (USP), com base em imagens aéreas – Lula preferiu, neste ano, evitar o risco de novo vexame e permaneceu em casa. A única atividade alusiva à data foi um pronunciamento televisivo, exibido em cadeia nacional na noite de 30 de abril, em que repetiu as velhas cantilenas, com doses extras de populismo e um toque de deboche.
Enfrentando queda nas pesquisas de popularidade, agravada pela alta da inflação e dos preços dos alimentos, além de escândalos administrativos como o esquema de fraudes no INSS, Lula – que já ensaia a tentativa de reeleição – usa qualquer oportunidade para listar os supostos feitos do governo, anunciar os mesmos projetos de sempre, enaltecer a própria gestão e lançar propostas populistas. Com o 1º de Maio, não foi diferente.
Chega a ser um acinte Lula querer tratar o estouro das fraudes no INSS – que envolve inclusive uma associação sindical ligada ao irmão de Lula, o Frei Chico – como se fosse uma conquista ou realização do governo
Sem grandes coisas para dizer, Lula tentou ganhar pontos com o eleitorado explorando temas populares – uma estratégia bem ao estilo do marqueteiro do governo, Sidônio Palmeira. No pronunciamento, o petista anunciou, mais uma vez, a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, e pegou carona na discussão sobre o fim da escala 6x1, que ganhou popularidade no ano passado após a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de autoria da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que estabelece uma jornada de trabalho de 4x3 – quatro dias de trabalho e três de descanso.
Sem citar a proposta de Hilton, o petista disse que o governo vai “aprofundar o debate” sobre o assunto e que “está na hora do Brasil dar esse passo, ouvindo todos os setores da sociedade, para permitir um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras”. Atualmente, a Constituição permite jornada 6x1, ou seja, até 8 horas diárias e 44 semanais, o que equivale a seis dias de trabalho e um dia de folga por semana. A maioria dos brasileiros, contudo, já trabalha no sistema 5x2. Na Câmara, além da proposta da deputada do PSOL, há outros projetos de teor semelhante, mas qualquer discussão sobre o tema é complexa. Um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) estima que até 18 milhões de empregos podem ser extintos caso a medida avance sem um aumento proporcional da produtividade. Lula, portanto, embarca no desespero ao querer usar a proposta para alavancar sua popularidade.
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Mas o ponto alto – ou baixo – do pronunciamento foi outro. Lula, que até então havia evitado tocar diretamente no escândalo de fraudes no INSS – conhecido há pelo menos dois anos pela cúpula do instituto e pelo recém-demitido ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi – resolveu, finalmente, abordar o tema. Segundo ele, foi graças à ação de seu governo que a fraude de descontos indevidos feitos por entidades em pagamentos de aposentados foi desmantelada. “Na última semana, o nosso governo, por meio da Controladoria-Geral da União e da Polícia Federal, desmontou um esquema criminoso de cobrança indevida contra aposentados e pensionistas, que vinha operando desde 2019”, declarou o presidente.
Chega a ser um acinte Lula querer tratar o estouro das fraudes no INSS – que envolve inclusive uma associação sindical ligada ao irmão de Lula, o Frei Chico – como se fosse uma conquista ou realização do governo. O que houve, isso sim, foi a demora absurda do Ministério da Previdência em agir. A administração lulopetista tinha conhecimento das fraudes desde 2023 – foi avisada várias vezes do problema – mas insistiu em fazer ouvidos moucos, esperando por supostos relatórios que nunca chegaram e deixou o problema se agravar. Foram, aliás, exatamente nos dois últimos anos que o número de filiados aos falsos sindicatos e associações cresceu absurdamente, evidenciando a dimensão das fraudes.
Se Lula queria usar o 1º de Maio para falar com os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil, errou feio.