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Falta de direção do governo explica desastre na popularidade de Lula

Embora não seja apontada como principal vetor das negociações, perda de popularidade de Lula foi uma das influências sobre dólar e Bolsa de Valores nos últimos dias.
O presidente Lula. (Foto: André Borges/EFE)

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A queda acentuada da popularidade do governo Lula, apontada na mais recente pesquisa de satisfação do Datafolha, pode ser explicada por uma série de fatores correlatos. Entre eles, destacam-se a grave crise na comunicação institucional e os desafios na articulação política. Além disso, pudemos perceber que o aumento do preço dos alimentos, o câmbio descontrolado, a ausência no lançamento de novas marcas e a polêmica do PIX corroeram o já escasso otimismo que a população nutria com o governo federal.

Um dos principais desafios que tem tirado o sono do presidente Lula e que interferem na sua popularidade é a política econômica. Embora haja um discurso de que "a economia vai bem", a insatisfação da população sugere uma desconexão entre os indicadores macroeconômicos e os efeitos reais no dia a dia da população. O nó que precisa ser desatado passa pelo complexo equilíbrio entre a necessidade de destravar o crescimento da economia do país e a presença de uma estrutura regulatória e tributária que garanta o aumento na arrecadação sem despertar resistência e hostilidade por parte da oposição.

Uma reforma ministerial na atual conjuntura política não interessa quase nenhum partido político. O governo federal perdeu uma das mais fortes e tradicionais contrapartidas no tabuleiro do presidencialismo de coalizão

Exemplos como a taxação dos super-ricos e a controvérsia em torno da pesquisa e exploração de petróleo na Margem Equatorial ilustram essa dinâmica. Nesse contexto, o governo encontra-se estagnado e sem nenhuma perspectiva positiva para impor uma agenda tanto arrecadatória quanto política a 20 meses das eleições, o que deve impactar nos índices de popularidade de Lula.

Pasmem! Uma reforma ministerial na atual conjuntura política não interessa quase nenhum partido político. O governo federal perdeu uma das mais fortes e tradicionais contrapartidas no tabuleiro do presidencialismo de coalizão. Explico: sabendo que os ministérios estão sem recursos, qual seria o interesse do parlamentar em assumir o cargo de ministro no início de março de 2025? Além disso, os ministérios são estruturas complexas e nacionais, isso implica em um tempo significativo para que o novo ministro fique por dentro da situação dos programas da pasta e um tempo ainda maior para organizar sua nova equipe de trabalho. Tarefa quase impossível, tendo em vista que o parlamentar que quiser buscar a reeleição em 2026 terá que se desincompatibilizar do cargo de ministro seis meses antes do pleito.

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O presidente Lula viu sua popularidade derreter entre os católicos e evangélicos, de 42% para 28% e de 26% para 21% respectivamente. Outro dado que intriga a cúpula do PT é que a maior queda da avaliação positiva veio do Nordeste, reduto eleitoral do partido, onde o percentual de aprovação recuou de 67% para 60%. Dentro do seu círculo mais próximo de apoiadores o cenário é bastante parecido.

Críticas recentes, que circularam em grupos de WhatsApp de aliados do governo, afirmaram que Lula está isolado, não faz política em seu terceiro mandato e está preso aos feitos do seu passado. Esses dados mostram uma queda perigosa e coloca o bode na sala para um debate mais assertivo sobre quais serão os próximos passos do partido, do governo e do país.

Marcus Deois, profissional de comunicação, possui MBA em Economia e Relações Institucionais e Governamentais e é sócio-diretor da Ética Inteligência Política.

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