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A queda acentuada da popularidade do governo Lula, apontada na mais recente pesquisa de satisfação do Datafolha, pode ser explicada por uma série de fatores correlatos. Entre eles, destacam-se a grave crise na comunicação institucional e os desafios na articulação política. Além disso, pudemos perceber que o aumento do preço dos alimentos, o câmbio descontrolado, a ausência no lançamento de novas marcas e a polêmica do PIX corroeram o já escasso otimismo que a população nutria com o governo federal.
Um dos principais desafios que tem tirado o sono do presidente Lula e que interferem na sua popularidade é a política econômica. Embora haja um discurso de que "a economia vai bem", a insatisfação da população sugere uma desconexão entre os indicadores macroeconômicos e os efeitos reais no dia a dia da população. O nó que precisa ser desatado passa pelo complexo equilíbrio entre a necessidade de destravar o crescimento da economia do país e a presença de uma estrutura regulatória e tributária que garanta o aumento na arrecadação sem despertar resistência e hostilidade por parte da oposição.
Uma reforma ministerial na atual conjuntura política não interessa quase nenhum partido político. O governo federal perdeu uma das mais fortes e tradicionais contrapartidas no tabuleiro do presidencialismo de coalizão
Exemplos como a taxação dos super-ricos e a controvérsia em torno da pesquisa e exploração de petróleo na Margem Equatorial ilustram essa dinâmica. Nesse contexto, o governo encontra-se estagnado e sem nenhuma perspectiva positiva para impor uma agenda tanto arrecadatória quanto política a 20 meses das eleições, o que deve impactar nos índices de popularidade de Lula.
Pasmem! Uma reforma ministerial na atual conjuntura política não interessa quase nenhum partido político. O governo federal perdeu uma das mais fortes e tradicionais contrapartidas no tabuleiro do presidencialismo de coalizão. Explico: sabendo que os ministérios estão sem recursos, qual seria o interesse do parlamentar em assumir o cargo de ministro no início de março de 2025? Além disso, os ministérios são estruturas complexas e nacionais, isso implica em um tempo significativo para que o novo ministro fique por dentro da situação dos programas da pasta e um tempo ainda maior para organizar sua nova equipe de trabalho. Tarefa quase impossível, tendo em vista que o parlamentar que quiser buscar a reeleição em 2026 terá que se desincompatibilizar do cargo de ministro seis meses antes do pleito.
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O presidente Lula viu sua popularidade derreter entre os católicos e evangélicos, de 42% para 28% e de 26% para 21% respectivamente. Outro dado que intriga a cúpula do PT é que a maior queda da avaliação positiva veio do Nordeste, reduto eleitoral do partido, onde o percentual de aprovação recuou de 67% para 60%. Dentro do seu círculo mais próximo de apoiadores o cenário é bastante parecido.
Críticas recentes, que circularam em grupos de WhatsApp de aliados do governo, afirmaram que Lula está isolado, não faz política em seu terceiro mandato e está preso aos feitos do seu passado. Esses dados mostram uma queda perigosa e coloca o bode na sala para um debate mais assertivo sobre quais serão os próximos passos do partido, do governo e do país.
Marcus Deois, profissional de comunicação, possui MBA em Economia e Relações Institucionais e Governamentais e é sócio-diretor da Ética Inteligência Política.