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Doenças nos rins afetam o coração mais do que você imagina

A relação entre rins e coração é tão forte que pessoas com doença renal crônica, mesmo nos estágios iniciais, já apresentam risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares (Foto: Robina Weermeijer/Unsplash )

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Uma em cada dez pessoas tem doença renal crônica. No Brasil, mais de 20 milhões de pessoas vivem com essa condição, mas a maioria sequer sabe do diagnóstico. Nos estágios iniciais, a doença renal crônica pode ser silenciosa, sem apresentar sintomas. Quando sinais – como redução do volume urinário, inchaço, fadiga, falta de ar e sonolência – surgem, o tratamento pode já não ser tão eficiente. Por isso, é essencial dar atenção à saúde dos rins desde cedo. E para isso, não basta olharmos apenas para os rins.

Os rins trabalham em conjunto com diversos órgãos do corpo humano, mas sua conexão com o coração merece destaque. Enquanto os rins filtram impurezas do sangue, regulam a pressão arterial e eliminam toxinas, o coração garante a circulação adequada para que essas funções aconteçam. Quando um desses órgãos falha, o outro também sofre.

Saúde dos rins para todos é um compromisso que começa com a prevenção e o diagnóstico, e depende de políticas públicas que garantam acesso, equitativo e integral, ao tratamento

A relação entre rins e coração é tão forte que pessoas com doença renal crônica, mesmo nos estágios iniciais, já apresentam risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares. Nos estágios avançados, essa probabilidade cresce ainda mais. Além disso, muitos pacientes com doença renal falecem por problemas cardíacos antes mesmo de necessitarem de diálise ou transplante.

A prevenção e o diagnóstico precoce são as melhores estratégias para evitar complicações. A doença renal crônica pode ser detectada precocemente por exames simples, como o exame de urina e a dosagem de creatinina no sangue. Essas avaliações, que estão disponíveis no SUS e podem ser incluídas nos exames de rotina, são fundamentais para identificar problemas antes mesmo do aparecimento dos sintomas, quando o tratamento é mais eficaz em reduzir a progressão da doença. Nos estágios mais avançados, a hemodiálise, a hemodiafiltração, a diálise peritoneal ou o transplante renal podem ser necessários. Atualmente, mais de 170 mil pessoas dependem do tratamento dialítico no Brasil.

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Cuidar do coração também significa proteger os rins – e vice-versa. Algumas medidas simples ajudam a manter essa parceria funcionando bem: controlar a pressão arterial e o diabetes, manter-se hidratado, evitar o uso indiscriminado de anti-inflamatórios, praticar atividades físicas e realizar exames periódicos. Uma boa notícia é o surgimento de medicamentos que vêm revolucionando, positivamente, o tratamento da doença renal crônica. Os inibidores do SGLT2 e o antagonista do receptor mineralocorticoide não esteroide ampliaram o arsenal terapêutico da nefrologia e ajudaram a mudar a história natural da doença.

Saúde dos rins para todos é um compromisso que começa com a prevenção e o diagnóstico, e depende de políticas públicas que garantam acesso, equitativo e integral, ao tratamento. Mais do que um chamado à ação, é um desejo. Um desejo, de coração, de que todos cuidem da saúde renal. De coração, para os rins. Dos rins, para o coração.

José A. Moura Neto é presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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