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O bloqueio imposto por Israel em março à entrada de ajuda humanitária em Gaza desmantelou uma das principais fontes de receita do Hamas: o desvio sistemático de suprimentos internacionais para venda no mercado negro. Sem esse fluxo de caixa, o grupo palestino enfrenta agora um colapso financeiro sem precedentes e já não consegue pagar seus próprios terroristas. A informação foi divulgada pelo Wall Street Journal, em reportagem publicada em abril com base em fontes de inteligência árabes, israelenses e ocidentais.
Antes do bloqueio imposto por Israel, de acordo com a informação, o Hamas havia transformado a ajuda humanitária enviada para ajudar os civis de Gaza em uma engrenagem paralela de financiamento. Diversos caminhões com mantimentos enviados por agências internacionais e ONGs estavam sendo interceptados, taxados, revendidos ou simplesmente confiscados em pontos de controle e comercializados de forma ilegal por integrantes do grupo terrorista. Segundo as autoridades citadas na reportagem, essa estrutura estava gerando receita constante e em dinheiro vivo para o Hamas, essencial para sustentar sua operação terrorista no enclave palestino.
“O Hamas dependia principalmente da ajuda humanitária vendida em mercados paralelos para obter dinheiro em espécie”, afirmou ao WSJ Moumen Al-Natour, advogado palestino do campo de refugiados de Al-Shati e opositor declarado ao grupo. A exploração dos suprimentos humanitários por parte do Hamas também incluía a compra de mercadorias com recursos enviados do exterior — principalmente da Turquia — para serem revendidas por um alto valor em Gaza, gerando receita que era então redirecionada para o financiamento das atividades do grupo.
Com o bloqueio total das fronteiras imposto por Israel, essas práticas foram interrompidas. A ofensiva militar em curso também mirou estruturas financeiras do Hamas, resultando na morte de cambistas e operadores logísticos responsáveis pela movimentação de recursos. Com isso, a engrenagem que sustentava a folha de pagamento do grupo entrou em colapso.
Descontentamento cresce com falta de salários
Sem dinheiro, o Hamas deixou de pagar salários aos seus terroristas e funcionários políticos de alto escalão que atuam dentro do governo local em Gaza. Segundo os serviços de inteligência consultados pelo Wall Street Journal, os membros do grupo vinham recebendo entre US$ 200 e US$ 300 por mês. No entanto, durante o Ramadã, em março, assim que o bloqueio de Israel entrou em vigor, muitos passaram a receber apenas metade desse valor — e em alguns casos, nada.
“Mesmo que ainda estejam sentados sobre grandes somas em dinheiro vivo, sua capacidade (do Hamas) de distribuir esse dinheiro está extremamente limitada agora”, lembrou ainda o analista econômico Eyal Ofer, ao WSJ.
A interrupção dos pagamentos expôs a fragilidade da estrutura financeira do Hamas e tem agravado o descontentamento entre seus próprios quadros. Ao mesmo tempo, dificultou a capacidade de recrutar novos terroristas e alimentou protestos isolados de civis palestinos, cada vez mais pressionados pela crise humanitária e pela destruição causada pela guerra.
Conforme revelou o WSJ, antes da guerra, o Hamas recebia US$ 15 milhões mensais do Catar e acumulava até US$ 500 milhões em reservas, boa parte armazenada na Turquia. Com o início do conflito, Israel impediu a entrada desse dinheiro em Gaza. O grupo reagiu confiscando aproximadamente US$ 180 milhões de agências do Banco da Palestina, mas esse montante foi rapidamente esgotado diante da escalada do conflito e da dependência total de operações em espécie.
Israel prepara novo modelo de ajuda humanitária
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, afirmou que o bloqueio total de entrada de ajuda humanitária no enclave palestino busca minar o controle do Hamas e anunciou que o governo israelense já está trabalhando neste momento em um novo modelo de distribuição humanitária, com canais civis fora da influência do grupo terrorista. A estratégia visa cortar o elo entre assistência internacional e financiamento do terrorismo.
O cerco financeiro imposto por Israel representa um novo eixo da guerra: ao desestruturar as fontes de renda e impedir a movimentação de dinheiro dentro da Faixa de Gaza, o governo israelense enfraquece não apenas a capacidade militar do Hamas, mas também sua base de sustentação interna — um efeito que, segundo o Wall Street Journal, já começa a se tornar visível entre seus próprios membros.
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