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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (2) a implementação de sua nova política tarifária, durante o chamado “Dia da Libertação”. A medida estabelece uma tarifa base de 10% sobre praticamente todos os produtos importados, com alíquotas sendo elevadas para países que mantêm maior desequilíbrio comercial com os EUA. O Brasil foi incluído na faixa base, enquanto China e União Europeia (UE) enfrentarão tarifas mais severas.
“Nosso objetivo é restaurar o equilíbrio comercial e reerguer a base industrial americana, que foi devastada por acordos injustos e barreiras tarifárias impostas por outros países”, afirmou Trump durante o anúncio oficial.
Casa Branca prevê arrecadação bilionária e promete cortes de impostos
Peter Navarro, conselheiro de Trump para comércio e manufatura, declarou que as novas tarifas devem fazer com que os EUA arrecadem cerca de US$ 700 bilhões por ano, somando até US$ 6 trilhões em dez anos — um valor que ultrapassa qualquer aumento tributário anterior na história do país.
“As tarifas são cortes de impostos, as tarifas são empregos, as tarifas são segurança nacional”, disse Navarro à Fox News. “As tarifas são ótimas para a América. Elas vão tornar a América grande novamente”, disse.
Navarro afirmou ainda que os recursos arrecadados abrirão caminho para novos cortes de impostos no Congresso e que o governo pretende oferecer créditos fiscais para compradores de veículos americanos, embora os detalhes sobre o benefício ainda não tenham sido divulgados.
Grupos alertam para risco de inflação e desaceleração
Especialistas e institutos de pesquisa econômica dos EUA alertaram que, embora as tarifas de Trump possam estimular a produção interna, os efeitos no curto prazo devem ser aumento de preços e menor crescimento econômico. Um estudo feito pelo centro de pesquisa de políticas públicas e econômicas Budget Lab, da Universidade de Yale, veiculado pela mídia americana, indicou que uma tarifa ampla, como por exemplo 20% sobre importações, já pode causar uma inflação superior à média anual nos EUA e diminuir a atividade econômica do país.
“Essa política [tarifária] traria uma receita considerável, mas a um custo enorme”, afirmou Ernie Tedeschi, diretor de Economia no Budget Lab. “Em pouco tempo, os preços subiriam mais do que em um ano inteiro de inflação normal, e a economia americana seria menor, mesmo no longo prazo”, enfatizou.
Por sua vez, o banco Goldman Sachs elevou de 20% para 35% a probabilidade de uma recessão econômica nos EUA nos próximos 12 meses, com base na deterioração do sentimento de consumidores e empresários e na previsão de encarecimento generalizado dos produtos.
A instituição também reduziu sua projeção de crescimento do PIB para 1% em 2025 e aumentou a estimativa de desemprego para 4,5% ao fim do ano.
“A retórica da Casa Branca mostra disposição em tolerar fraqueza econômica de curto prazo para implementar essas medidas”, explicaram os economistas do banco em nota.
Mais de uma dezena de entidades, incluindo a National Taxpayers Union e o Taxpayers Protection Alliance, enviaram uma carta ao Congresso dos EUA e ao governo alertando que as tarifas devem aumentar os custos em áreas como alimentos, medicamentos, energia e habitação.
“Pedimos que considerem se as tarifas não podem, em muitos casos, minar os objetivos econômicos de longo prazo do presidente Trump ao elevar o custo dos bens tarifados”, escreveram as entidades.
Nesta quinta-feira (3), diante da reação negativa de alguns setores, Trump reafirmou sua confiança no impacto positivo de sua medida.
“Eu disse que seria como está sendo”, disse o mandatário aos jornalistas. “Os mercados vão ver um boom e os EUA vão prosperar”, declarou. Ele reiterou que outros países “tiraram vantagem” da maior economia do mundo “por muitos e muitos anos”.
Mais cedo, por meio das redes sociais, Trump comparou as tarifas a uma cirurgia necessária.
“A operação terminou. O prognóstico é que o paciente ficará muito mais forte, maior, melhor e mais resistente do que nunca. Vamos tornar a América grande novamente!”, escreveu o presidente em sua conta na Truth Social.
Segundo Trump, os Estados Unidos estão se recuperando e “sobreviveram” ao choque inicial, com expectativa de uma recuperação vigorosa da economia.
Por sua vez, o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, disse nesta quinta que os efeitos da nova política tarifária não serão imediatos, mas trarão alívio futuro.
“Isso não acontecerá imediatamente. Se buscarmos a desregulamentação e políticas de redução de custos, as pessoas verão isso em seus bolsos e se beneficiarão disso”, afirmou em entrevista à Fox News.
Tarifas sobre automóveis podem aumentar preços internos
Antes mesmo do “Dia da Libertação”, o governo Trump já havia anunciado uma tarifa de 25% sobre todos os automóveis fabricados fora dos EUA – essa tarifa também alcança peças fabricadas fora do país e já está em vigor. A medida também integra a estratégia explicada durante o “tarifaço” desta quarta, e serve para pressionar empresas a transferirem sua produção para os Estados Unidos.
Segundo analistas, a medida deve provocar um aumento expressivo nos preços para os consumidores americanos. Estimativas feitas pela consultoria Anderson Economic Group (AEG), publicadas pela emissora CNN, apontam que os preços de carros totalmente importados por americanos — como Audi, Mercedes, Lexus e BMW — podem subir entre US$ 8 mil e US$ 20 mil. Já veículos montados nos Estados Unidos, mas com grande quantidade de peças estrangeiras, também devem encarecer. Modelos como o Chevrolet Suburban podem ter reajustes de até US$ 12 mil.
“Se você está no mercado procurando por um carro novo e encontrar um que gosta, compre agora”, recomendou Patrick Anderson, CEO do AEG. “E se depende de um carro usado, cuide bem dele — você provavelmente vai precisar dele por mais tempo do que imaginava”, alertou.
O AEG estima que, apenas no primeiro ano, os consumidores americanos podem pagar US$ 30 bilhões a mais por veículos, mesmo que as montadoras tentem inicialmente absorver parte dos custos.
Sindicatos automobilísticos apoiam a ofensiva tarifária
A decisão de tarifar o setor automobilístico que opera fora dos EUA foi recebida com apoio por lideranças sindicais ligadas à indústria automotiva americana. Shawn Fain, presidente do United Auto Workers (UAW), o maior do setor, reforçou que as tarifas são vistas como “um instrumento legítimo para proteger empregos americanos”.
“As tarifas são uma ferramenta para fazer as empresas fazerem a coisa certa. E a intenção por trás disso é trazer os empregos de volta para cá. Os trabalhadores da classe média americana foram deixados para trás por décadas, e estão cansados disso”, afirmou Fain.