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Documentos mostram como o Hamas trabalhou ao longo dos anos o massacre em Israel

Documentos mostram como o Hamas trabalhou ao longo dos anos o massacre em Israel
Socorristas e forças de segurança inspecionam corpos de israelenses mortos na cidade de Sderot, após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023 (Foto: EFE/EPA/ATEF SAFADI )

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Uma série de novos documentos capturados pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) revelaram que o massacre cometido pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 não foi uma ação “isolada ou espontânea”, como alegam alguns apoiadores do grupo terrorista. Ao contrário, tratou-se do ápice de um plano estratégico desenvolvido por anos, com o objetivo claro e deliberado de destruir Israel por meio de uma ofensiva militar articulada em várias frentes.

Os documentos, analisados e divulgados pelo Centro Meir Amit de Inteligência e Terrorismo de Israel, comprovam que o ataque, que resultou na morte brutal de 1,2 mil civis e no sequestro de mais de 200 pessoas em solo israelense, foi meticulosamente planejado pela liderança central do Hamas. O plano contou com apoio direto e constante do regime islâmico do Irã e do grupo terrorista libanês Hezbollah, ambos aliados do Hamas.

Segundo os registros, essas três frentes atuaram de forma coordenada nos anos que antecederam o ataque, dentro da aliança conhecida como “Eixo da Resistência” — formada por Irã, Hezbollah, Hamas e outras milícias pró-iranianas ativas no Iêmen, Iraque e Síria. A colaboração incluía reuniões secretas, troca de correspondências estratégicas e aprovação direta de ações por figuras como o então líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah (que já foi eliminado por Israel), e o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei.

De acordo com os analistas do Centro Meir Amit, os documentos mostram que até 2019 o Hamas mantinha uma postura majoritariamente "defensiva", focada na manutenção de seu poder e estrutura militar dentro da Faixa de Gaza. No entanto, a partir daquele ano, a organização passou por um “reposicionamento estratégico”, passando a tratar a destruição de Israel como uma meta exequível no curto prazo. A partir de então, os terroristas palestinos passaram a planejar uma guerra total contra o Estado israelense.

Entre os documentos apreendidos em Gaza está um memorando assinado por Yahya Sinwar, então chefe do Hamas na Faixa de Gaza. Nele, o grupo propõe formalmente a formação de um “pacto de defesa” com o Irã e o Hezbollah, com o objetivo de “preparar a guerra para libertar Jerusalém, ativando todas as frentes contra o inimigo comum: Israel”.

Esse processo de militarização acelerada ganhou força após a operação “Guardiões das Muralhas”, lançada por Israel em maio de 2021 como resposta aos intensos disparos de foguetes vindos de Gaza. Apesar das baixas sofridas, o Hamas interpretou o desfecho da operação como um sinal de vulnerabilidade por parte de Israel, especialmente porque seus principais líderes militares em Gaza — como Sinwar e Mohammed Deif — não foram eliminados. A partir dali, os dirigentes militares e políticos do grupo terrorista passaram a acreditar que a destruição total de Israel era viável, e entre 2021 e 2023 aprofundaram seus planos, com foco em logística, articulação regional e treinamento de tropas.

Os documentos capturados revelam que o Hamas elaborou três cenários militares distintos para atingir seu objetivo. O primeiro, classificado como o “preferido”, previa um ataque coordenado envolvendo todos os integrantes do “Eixo da Resistência” — com participação direta do Hezbollah e de milícias aliadas ao Irã no Iêmen, Síria, Iraque e Jordânia. O segundo previa o Hamas como força principal, com apoio parcial do Hezbollah. Já o terceiro, denominado “cenário de necessidade”, seria conduzido apenas com os recursos do Hamas, com apoio indireto e logístico do Hezbollah.

Todos os cenários tinham como objetivo final a destruição completa do Estado de Israel.

O primeiro cenário — o mais ambicioso — previa ataques lançados não apenas a partir da Faixa de Gaza, mas também do Líbano, Síria, Iraque e Iêmen, além da infiltração de guerrilheiros pela Jordânia. A estratégia também envolvia provocar levantes simultâneos na Cisjordânia e entre árabes israelenses, com o intuito de desestabilizar o país internamente.

Em uma das cartas apreendidas e analisadas pelo Centro Meir Amit, Sinwar defende a viabilidade deste primeiro plano afirmando que “essa campanha mudará a face da região [...] e trará a realização da grande revolução islâmica regional. A campanha deve ter como símbolo Al-Aqsa e Jerusalém”.

A convicção do Hamas de que a destruição de Israel era apenas uma questão de tempo ficou evidente quando, em setembro de 2021, Sinwar organizou uma conferência em Gaza para discutir abertamente a estrutura de uma “Palestina pós-Israel”. Um dos relatórios do evento, obtido pelas FDI, sugeria que, após a eliminação do Estado israelense, seria necessário “distinguir entre os judeus que deveriam ser mortos ou legalmente perseguidos e aqueles que poderiam deixar o país ou se integrar ao novo Estado [que seria palestino]”.

Além do planejamento militar, o Hamas também investiu em propaganda para preparar psicologicamente seus apoiadores. Em 2022, produziu uma série de televisão que simulava uma invasão a Israel — com enredo e formato praticamente idênticos ao ataque que viria a ocorrer em outubro de 2023. Em um dos episódios, o personagem principal afirma: “Hoje nós os invadiremos e não o contrário… será um momento decisivo na história, um dia que o inimigo nunca esquecerá até ser aniquilado”.

Os registros também evidenciam o envolvimento direto do Irã na articulação dos ataques. Em junho de 2023, semanas antes do massacre, Ismail Haniyeh (então líder político do Hamas) e Saleh al-Arouri (seu vice) participaram de uma reunião secreta em Teerã com o aiatolá Ali Khamenei e o então presidente iraniano Ebrahim Raisi — morto meses depois em um acidente de helicóptero. Segundo documentos interceptados, Raisi declarou que “a resistência está mais forte do que nunca, enquanto Israel está mais fraco do que nunca”, enquanto o comandante da Guarda Revolucionária iraniana, Hossein Salami, afirmou ver “sinais e uma possibilidade de eliminar Israel do mapa”.

Com apoio militar e financeiro do Irã, e convencido da fragilidade interna de Israel, o Hamas decidiu, em outubro de 2023, colocar em prática o que parece ter sido o terceiro cenário previsto em seus documentos estratégicos — o chamado “cenário de necessidade”. Esse modelo de ofensiva, conduzido com recursos materiais próprios e apoio indireto do Hezbollah, parece ter sido o mais viável naquele momento, diante das limitações operacionais e do contexto regional. O ataque foi executado por via terrestre e aérea por terroristas do Hamas, com retaguarda estratégica fornecida por aliados iranianos. Segundo os documentos, a intenção era deflagrar, com este ataque, uma guerra regional, o que não se concretizou, em parte pelo enfraquecimento do Irã e pela eliminação de diversos líderes-chave tanto do Hamas quanto do Hezbollah por Israel nos meses seguintes.

Apesar das severas perdas sofridas desde então, o relatório do Centro Meir Amit alerta que o plano de destruir Israel continua ativo dentro da estratégia de longo prazo do Hamas.

“No longo prazo, se o Hamas se recuperar, não é improvável que o movimento volte a considerar a destruição de Israel como um plano prático”, conclui o centro de inteligência.

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