Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Atividade econômica

PIB brasileiro cresceu 3,4% em 2024, mas deve desacelerar neste ano; entenda

Movimento no comércio em SP: ritmo de crescimento da atividade econômica deve desacelerar em 2025 (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Ouça este conteúdo

O PIB brasileiro cresceu 3,4% em 2024, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrando o quarto ano consecutivo de expansão em torno de 3% e a maior taxa desde 2021. Igor Cadilhac, economista do PicPay, atribui o resultado ao aumento da demanda interna, impulsionado por política fiscal expansionista e maior oferta de crédito.

O desempenho confirmou as projeções de mercado, com o Monitor do PIB do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) indicando avanço de 3,5% e o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) do Banco Central apontando 3,8%.

As perspectivas para 2025 indicam um cenário menos promissor, afetado por desafios internos e por um cenário global mais complexo. O último Boletim Focus do Banco Central (BC), divulgado na quarta (6) indica que a mediana das projeções das instituições financeiras para o crescimento do PIB em 2025 está em 2,01%. Já a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda projeta mais: 2,5%.

Os destaques do PIB brasileiro em 2024

Os principais destaques entre as atividades em 2024 foram observados em segmentos como outras atividades de serviços, que cresceram 5,3% no ano, seguido pela indústria de transformação e o comércio, ambos com alta de 3,8%. De acordo com Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE, eles responderam por aproximadamente metade do crescimento da economia brasileira no período.

Pela ótica da demanda, o principal destaque em 2024 foi o consumo das famílias, que registrou um avanço de 4,8%. Segundo Palis, esse crescimento foi influenciado por três fatores principais:

  • Programas de transferência de renda promovidos pelo governo;
  • Melhoria contínua no mercado de trabalho, com mais empregos e renda;
  • Taxas de juros médias menores em comparação a 2023.

Os investimentos cresceram 7,3% no ano. Eles também ajudaram a estimular a atividade econômica, com o maior avanço em 12 meses desde o primeiro trimestre de 2022. No entanto, o volume aplicado, equivalente a 17,1% do PIB no quarto trimestre, ainda está abaixo dos 20% a 25% do PIB necessários para países emergentes.

Os dados oficiais do crescimento econômico por região e estado em 2024 só devem divulgados pelo IBGE apenas no final de 2026. Entretanto, um estudo da Tendências Consultoria aponta que a região Norte liderou com um avanço estimado de 4,5% no PIB. Os destaques entre os estados foram Amazonas (6,1%), Amapá (5,3%) e Santa Catarina (4,9%).

Sinais de desaquecimento da economia já começam a aparecer

Apesar do desempenho positivo em 2024, sinais de desaquecimento econômico começaram a surgir no final do ano. O PIB do quarto trimestre apresentou uma variação de apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior, o menor crescimento em cinco trimestres.

Palis, do IBGE, afirmou que o PIB no período ficou praticamente estável. Embora houve crescimento nos investimentos, o consumo das famílias caiu, influenciado por uma combinação de fatores:

  • Aceleração da inflação, especialmente no setor de alimentos, que reduziu o poder de compra;
  • Desaceleração na melhoria do mercado de trabalho, com taxas de crescimento mais moderadas;
  • Alta nas taxas de juros, iniciada em setembro, que começou a impactar a economia no último trimestre.

O economista Arnaldo Lima, da Polo Capital, aponta que o elevado endividamento das famílias, equivalente a 48,7% da renda acumulada nos últimos 12 meses, também contribuiu para a retração do consumo. "Esses fatores indicam desafios para a demanda interna no curto prazo, apesar do avanço nos investimentos produtivos e da resiliência do mercado de trabalho."

Agro vai impulsionar PIB brasileiro em 2025, mas descontrole fiscal inibe avanço maior

Segundo a Tendências, neste ano, a atividade econômica deverá ser puxada pelo agronegócio e quem deve liderar o crescimento deve ser a região Centro-Oeste., que deve ser a única entre as cinco a acelerar o ritmo de expansão do PIB. Mas analistas preveem desaceleração econômica.

Ela deve-se, em grande parte, à falta de medidas estruturais, como o controle das contas públicas, por parte governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Analistas indicam que a política fiscal expansionista tem intensificado as pressões inflacionárias.

No ano passado, o Brasil registrou um déficit primário de 0,37% do PIB, afetadp pelo saldo negativo de 0,4% nas contas do governo federal. A dívida pública alcançou 76,1% do PIB em dezembro, o maior nível para o mês desde 2021.

Outra questão é a tentativa de aquecer a economia para melhorar a popularidade de Lula. Em fevereiro, o governo anunciou a liberação um saque extraordinário de R$ 12 bilhões do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), disponível desde esta quinta (6) para trabalhadores que optaram pelo saque-aniversário e foram demitidos sem justa causa.

A liberação mantém a demanda aquecida por bens e serviços, elevando os riscos de alta nos preços. O IPCA-15, prévia da inflação, acumulou alta de 4,96% em 12 meses até fevereiro, a maior desde outubro de 2023.

Superaquecimento pode elevar a inflação

O superaquecimento econômico também pode elevar as expectativas de inflação, fator crucial analisado pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) ao ajustar a taxa Selic. Na última ata, o comitê sinalizou a manutenção de aumentos de um ponto percentual na taxa básica de juros nas próximas reuniões.

As expectativas para o IPCA em 2025 seguem altas. O último Boletim Focus projeta inflação de 5,65%, acima da meta de 3% e do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Embora as projeções não tenham subido pela primeira vez em 20 semanas, a distância em relação à meta evidencia desafios contínuos no controle da inflação.

O descasamento aumenta os riscos de desconfiança na economia brasileira. De acordo com o FGV Ibre, a confiança dos empresários atingiu, em fevereiro, o menor nível desde maio, e está em queda há quatro meses seguidos.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 18 dos 29 segmentos analisados demonstram falta de confiança nas condições econômicas atuais e futuras, especialmente entre pequenas e médias indústrias e as localizadas nas regiões Sul e Sudeste, principais polos de produção fabril do país.

A desconfiança em relação à economia também começa a afetar os consumidores. Em fevereiro, a confiança dos paulistas e dos paulistanos, que representam o maior mercado consumidor do Brasil, registrou queda, de acordo com dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

O recuo reflete um cenário de menor intenção de compra de bens duráveis, como carros e imóveis, além de uma baixa disposição para realizar investimentos futuros. A redução na confiança é mais perceptível entre as classes de maior renda, mas já começa a afetar também as classes de menor poder aquisitivo, ampliando os sinais de cautela no consumo..

Tensão externa também dificulta crescimento maior do PIB brasileiro

O cenário interno desafiador é agravado pela crescente exposição a fatores externos, como as políticas protecionistas do presidente dos EUA, Donald Trump. Nesta semana, ele voltou a ameaçar países, incluindo o Brasil, com novas tarifas. Produtos como o aço já foram afetados, e o etanol pode ser o próximo alvo.

Analistas alertam que essas medidas podem reduzir a competitividade das exportações brasileiras e desestabilizar o fluxo de capitais. Thiago Elk, CEO da Bankme, aponta que, caso ocorra um conflito econômico entre grandes economias como EUA e China, o Brasil pode enfrentar menor demanda por commodities. Ele também ressalta que uma desaceleração da economia global teria impacto semelhante.

Nos EUA, o aumento dos custos de importação pode pressionar a inflação, levando o Federal Reserve a elevar a taxa de juros. Isso tornaria os ativos americanos mais atrativos, desviando recursos de mercados emergentes, como o Brasil, para os EUA, considerados mais seguros, o que, segundo Elk, prejudica essas economias.

A desvalorização do real frente ao dólar pode aumentar os custos das importações e, com a volatilidade cambial, dificultar o planejamento das empresas e afetar negativamente o crescimento econômico do Brasil, afirma o executivo.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

OSZAR »