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Durante a tradicional conferência anual de acionistas da Berkshire Hathaway neste sábado (3), em Omaha, o megainvestidor Warren Buffett afirmou que o trabalho do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por Elon Musk, é necessário para os Estados Unidos enfrentarem seu "déficit fiscal insustentável" e a "inflação substancial".
Apesar de dizer que equilibrar receitas e despesas públicas não é uma missão que o atrai, Buffett foi enfático: “a burocracia é contagiosa, e o que assusta sobre o futuro do câmbio é que ele é controlado por pessoas eleitas por promessas”.
O encontro, que reuniu cerca de 38 mil pessoas, teve mais de duas horas de perguntas e respostas com Buffett, de 93 anos, ao lado de seu sucessor designado, Greg Abel. Com bom humor, franqueza e lições de vida, o “Oráculo de Omaha” abordou temas como tarifas comerciais, o recorde de caixa da Berkshire Hathaway e os efeitos da volatilidade no mercado.
Sobre a política de tarifas de importação recentemente reforçada pelos EUA, Buffett foi duro: "O comércio não deveria ser uma arma", disse, ao afirmar que tarifas podem ser tratadas como atos de guerra. Para ele, o protecionismo alimenta rivalidades perigosas: “Não acho uma boa ideia um mundo em que alguns países dizem ‘nós ganhamos’ enquanto alguns têm armas nucleares”.
Apesar da volatilidade recente nos mercados, Buffett negou que o momento atual represente grandes oportunidades. “O que aconteceu nos últimos 40 dias não é nada. A Berkshire já caiu 50% três vezes depois que a compramos, mesmo sem nenhum problema de fundamento”, afirmou.
Segundo ele, quem se desespera com quedas de 15% “precisa de uma nova filosofia de investimentos”. Buffett reforçou a importância do controle emocional: “Já desperdicei oportunidades fabulosas ao longo da vida, mas isso é parte de ser humano”.
A Berkshire Hathaway acumula atualmente um caixa recorde, que Buffett justifica com cautela e seletividade. “Estamos em um negócio extremamente oportunista. Seria ótimo ter quatro boas oportunidades por dia, mas isso não acontece”, disse.
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Outro destaque da fala foi a transformação das big techs, que segundo Buffett agora precisam de grandes investimentos em data centers para sustentar a corrida pela inteligência artificial — algo que não existia quando surgiram como líderes do mercado. Ele comparou o cenário ao setor de seguros, intensivo em capital, e observou que até mesmo a Apple, uma das joias do portfólio da Berkshire, já “não precisava de dinheiro algum” há alguns anos.
O momento também serviu para transmitir lições pessoais. Questionado por uma jovem de 14 anos sobre como trabalhar na Berkshire no futuro, Greg Abel, seu sucessor, respondeu: “Trabalhe duro. Se você tiver uma ética de trabalho forte, encontrará o que ama fazer — e esperamos o dia em que você será parte da Berkshire”.
Buffett devolveu com uma de suas máximas: "Aprendi muito ouvindo em silêncio", relembrando quando visitava CEOs e os desafiava com perguntas provocativas para entender melhor as indústrias.
Em um dos momentos mais marcantes, Buffett contou que recusou um pedido de reunião feito anos atrás por uma investidora polonesa, explicando que precisava usar bem seus dias restantes. “Já se passaram 5 mil dias desde então”, brincou ela.
Apesar da idade avançada, Buffett segue como a grande estrela do evento — enquanto prepara, aos poucos, a transição do comando da empresa para Greg Abel.