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Questões indígenas

Candidato ao Oscar, “Sugarcane” força a barra para atacar a Igreja Católica

Julian Brave NoiseCat, diretor do documentário "Sugarcane", que concorre ao Oscar
Julian Brave NoiseCat, diretor de "Sugarcane", que concorre ao Oscar na categoria Melhor Documentário em Longa-Metragem (Foto: Divulgação Disney+)

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Disponível no Disney+, o documentário Sugarcane: Sombras de um Colégio Interno foca em crimes ocorridos dentro de uma escola católica no Canadá, mas a abordagem exagerada e a tentativa de responsabilizar toda a Igreja Católica pelos atos de alguns religiosos comprometem sua credibilidade. Indicada ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Documentário em Longa-Metragem, a produção repete um padrão já visto em outros indicados deste ano, como Conclave, que satiriza a fé católica com efeitos de alta qualidade cinematográfica. No caso de Sugarcane, a narrativa assume um tom ficcional ao retratar os abusos em uma missão indígena como se fossem uma prática institucionalizada da Igreja.

O filme relata a descoberta, em 2021, de uma vala com restos mortais de 215 crianças na antiga escola residencial indígena Kamloops, na Colúmbia Britânica. Fechado em 1978, o colégio fazia parte de uma rede financiada pelo governo e administrada, em sua maioria, pela Igreja Católica. A produção acompanha a investigação de supostos crimes envolvendo bebês, que teriam sido filhos de mulheres indígenas abusadas e mortos no incinerador da escola.


Dirigido por Julian Brave Noisecat e Emily Kassie, Sugarcane apresenta depoimentos de vítimas que sofreram os abusos cometidos na Missão São José, próxima à reserva da Primeira Nação de Williams Lake, conhecida como Sugarcane. O documentário também aprofunda a história pessoal do pai do diretor, Ed Archie Noisecat, cujo nascimento e criação foram marcados por desafios tão traumáticos para sua mãe que ela evita falar sobre o assunto. O filme sugere, sem confirmar explicitamente, a possibilidade de Ed ter sido resgatado à beira de ser carbonizado no incinerador do colégio.

Incêndios injustificáveis

O impacto das alegações do documentário foi amplificado por movimentos extremistas que extrapolaram a responsabilidade individual dos criminosos e a estenderam à Igreja como um todo. Em resposta à descoberta da ossada e às denúncias de ex-alunos, várias igrejas católicas foram incendiadas no Canadá. Esses ataques privaram fiéis inocentes de seu acesso aos sacramentos, evidenciando como discursos inflamados podem gerar represálias violentas.

Desde a primeira escola, fundada na década de 1820, até o fechamento do último colégio em 1997, 150 mil crianças indígenas passaram pelo sistema. Considerando a extensão do período e o volume de alunos, é forçoso concluir que os casos retratados no documentário representam uma exceção, não a regra. As alegações, portanto, possuem lacunas e suposições, como a insinuação de que a presença de um cemitério próximo comprovaria execuções. A tradição cristã de sepultar mortos próximo a igrejas é antiga, tornando a argumentação rasa.

Curiosamente, a obra intercala essas graves acusações com imagens antigas de crianças aparentemente felizes, brincando e rezando entre os religiosos, o que cria um contraste incoerente com a narrativa apresentada. Assim, o documentário levanta mais dúvidas do que respostas sobre o julgamento e a apuração dos crimes cometidos.

Santo Padre pede desculpas

No decorrer das investigações, um grupo de vítimas obtém audiência com o Papa Francisco, que faz um discurso assumindo "vergonha" pelos abusos cometidos por membros da Igreja. O Santo Padre classificou as agressões como "falta de respeito" pela "conduta deplorável" dos abusadores, pedindo perdão a Deus e abençoando os representantes indígenas.

O documentário, no entanto, se aproveita de uma postura mais progressista do Papa atual, uma vez que o pedido de desculpas incluiu menções ao "desrespeito à religião indígena". Para muitos, isso contrasta com o mandamento evangélico de pregar a Palavra a todos os povos.

Julian Brave NoiseCat e o seupai Ed Archie NoiseCat durante as gravações do documentário SugarcaneJulian Brave NoiseCat e o seu pai Ed Archie NoiseCat olhando para o Williams Lake Stampede do topo do "Indian Hill" em sua viagem de volta para a Missão de São José, onde Ed nasceu. (Foto: Emily Kassie/Sugarcane Film LLC)

Outro líder que dá as caras no vídeo é o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, famoso por seu posicionamento esquerdista, lamentando o caso diante de uma audiência informal com a delegação de indígenas que visitou o Papa. Sua presença foi questionada como um oportunismo político, aproveitando a comoção midiática do encontro no Vaticano.

A crítica ao papel evangelizador da Igreja não é exclusividade do Canadá. Alguns comentários sobre a indicação de Sugarcane ao Oscar sugerem que o mesmo "genocídio cultural" teria ocorrido na América Latina. No Brasil, essa visão vem sendo explorada por grupos que defendem uma política “indigenista”, mas que privilegia ONGs e projetos internacionais em detrimento da real integração social e econômica dos povos nativos.
Resta torcer para que nenhum cineasta nacional se inspire em Sugarcane para produzir um documentário enviesado sobre o Brasil. A evangelização foi, e continua sendo, um dos pilares da civilização ocidental, e seu legado não pode ser distorcido por narrativas que ignoram a história e a contribuição da Igreja no desenvolvimento do Ocidente.

  • Sugarcane: Sombras de um Colégio Interno
  • 2024
  • 107 minutos
  • Indicado para maiores de 16 anos
  • Disponível no Disney+

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