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Diante das câmeras, a visita de Lula ao presidente russo, Vladimir Putin, foi marcada pela participação do petista nas comemorações pelo triunfo soviético na Segunda Guerra Mundial. No entanto, o encontro entre Lula e Putin discutiu assuntos estratégicos longe dos holofotes do tradicional desfile na Praça Vermelha. Um dos acordos, prestes a ser fechado, permitirá que a Tenex, uma subsidiária da estatal russa Rosatom, explore o urânio brasileiro e desenvolva centrais nucleares no Brasil.
Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), o objetivo da colaboração é o desenvolvimento dos países parceiros em áreas prioritárias, como energia nuclear, mineração sustentável, combustíveis limpos e transição energética. “Temos grandes reservas de urânio e potencial para liderar esse setor globalmente”, defende o ministro da pasta, Alexandre Silveira.
De acordo com uma estimativa oficial, o Brasil possui a oitava maior reserva de urânio do mundo, com cerca de 280 mil toneladas do minério disponíveis. “O presidente [Vladimir Putin] deu ordem à Rosatom para que faça o mais rápido possível a celebração de uma parceria com o governo brasileiro”, disse o ministro de Minas e Energia.
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Rússia deve produzir pequenos reatores com urânio proveniente do Brasil
Alexandre Silveira afirma que os russos devem produzir pequenos reatores modulares, conhecidos como SMRs na sigla em inglês, em indústrias próximas aos centros de consumo. Essa tecnologia tem aproximadamente 10% do tamanho de um reator convencional, podendo ser produzida em uma fábrica e depois transportada para outro local, onde a energia nuclear será gerada e utilizada.
Apesar das declarações do ministro de Minas e Energia, os detalhes da parceria entre Brasil e Rússia ainda não foram divulgados pelo governo brasileiro. Ou seja, nenhum valor foi oficializado e ainda não está claro se os russos terão acesso ao urânio somente para o desenvolvimento dos SMRs. Tanto a Rosatom quanto o MME foram procurados pela Gazeta do Povo, mas nenhuma resposta foi enviada até a publicação da reportagem.
A aproximação entre Brasil e Rússia ocorre em uma fase crítica da Guerra com a Ucrânia com tentativas frustradas de um acordo de paz, mediado pela comunidade internacional. Neste mês, o ditador russo Vladimir Putin ameaçou utilizar armar nucleares para “encerrar a guerra nos seus próprios termos”.
Além do urânio, exploração de lítio faz parte do acordo
Outro mineral que atrai os olhos dos russos é o lítio, que foi destacado pelo ministro Alexandre Silveira. “Temos reservas já em desenvolvimento e buscamos relações sólidas e de reciprocidade com parceiros estratégicos como a Tenex.”
Dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos indicam que as reservas brasileiras alcançam um total de 1 milhão de toneladas. Segundo o MME, por ser um metal leve, o lítio tem um "alto potencial eletroquímico e uma boa relação entre peso e capacidade energética”. Com essas qualidades, o lítio se torna um minério com diferencial para a produção de baterias para carros elétricos.
A produção e comercialização desses veículos faz parte de uma guinada estratégica da Rosatom, anunciada no ano passado pela estatal russa. Segundo nota à imprensa, a empresa do governo Putin está desenvolvendo o “conceito de bateria como serviço”, subtraindo o custo dela do preço dos carros elétricos, mas cobrando dos proprietários um pagamento mensal por sua locação.
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