Ouça este conteúdo
Com uma expectativa de produzir cerca de 20 mil toneladas/ano de nióbio e elementos de terras raras (ETR), a mineradora australiana St. George busca se estabelecer na região do município mineiro de Araxá. A previsão dos australianos é construir uma mina em 2026 e iniciar a extração do metal em 2027, para se juntar à Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), responsável por 80% da produção mundial do metal.
A primeira etapa do projeto foi realizada em agosto de 2024, quando a St. George fechou um acordo com o grupo Itafos para aquisição do Projeto Araxá, um complexo de três licenças de mineração de propriedade da Itafos Araxá Mineração e Fertilizantes. No acordo, os australianos adquiriram 100% do projeto a um custo de US$ 21 milhões: US$ 10 milhões à vista no ato do acordo, US$ 6 milhões a serem quitados até maio de 2025, e os US$ 5 milhões restantes em fevereiro de 2026.
Em outubro de 2024, representantes do governo de Minas Gerais estiveram em Sydney, na Austrália, para a assinatura de um acordo com a St. George envolvendo R$ 2 bilhões em investimentos. À época, o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Fernando Passalio, comemorou a formalização do acordo.
“Essa assinatura é resultado de um trabalho do Estado em diversas frentes: captação junto ao mercado, elaboração e execução de políticas públicas, bem como a criação de um ambiente atrativo, amigo de quem quer empreender e gerar empregos para nossa região. São 400 empregos que possuem um potencial muito maior na ponta, movimentando várias cadeias e a economia mineira como um todo”, afirmou.
Mineradora de nióbio assinou parceria com o Senai
Em janeiro de 2025, a St. George assinou um acordo de cooperação técnica com o Senai e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). O acordo tem como meta maximizar a obtenção do nióbio e de elementos de terras raras, reduzindo assim a quantidade de rejeitos no processo de mineração.
Testes conduzidos pela St. George mostraram que em perfurações de poucos metros de profundidade foi possível encontrar amostras de solo com concentrações de 8% de óxido de nióbio e 33% de elementos de terras raras. Em documento direcionado aos investidores, a empresa australiana ressaltou que buscou os parceiros brasileiros pela “experiência no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para otimizar o processamento de minerais ao mesmo tempo em que desenvolve uma operação sustentável”.
“É um passo fundamental para apoiar o desenvolvimento de um fluxo de processamento ideal para o Projeto Araxá. A assinatura deste acordo é uma prova não apenas do potencial de Araxá, mas também da qualidade e experiência da equipe brasileira que a St. George montou para impulsionar o projeto”, declarou John Prineas, diretor-executivo da St. George.
VEJA TAMBÉM:
O que era rejeito virou foco na mineração
Em entrevista à Gazeta do Povo, o coordenador do Instituto Senai de Inovação em Processamento Mineral, André Luis Pimenta, explicou que a abordagem a ser dada pelos australianos aprimora a que vinha sendo dada no local pelos antigos licenciados da Itafos. De acordo com Pimenta, o objetivo anterior era a extração de elementos de terras raras, como o neodímio, largamente utilizado em ímãs permanentes.
O material, entre seus principais usos, é empregado em turbinas de geração de energia eólica e em outras áreas, como motores elétricos e equipamentos de saúde como os aparelhos de ressonância magnética. Ao separar esses elementos de terras raras, um subproduto era gerado no processo. Esse produto, detalhou Pimenta, é rico em nióbio.
“Em linguagem de mineração, há um conceito antigo no beneficiamento que envolve separar o que é interessante da ganga, o rejeito. Com o ferro é assim, e a ganga é o quartzo. E nesse projeto de Araxá a ganga era o nióbio”, explicou.
Para o coordenador, ao explorar totalmente o minério, a necessidade de uso de estruturas de contenção de rejeitos, como as barragens, é sensivelmente reduzida. Com esse tipo de exploração total, apontou ele, há ainda a redução na pressão de abertura de novas frentes de mineração, o que diminui o impacto ambiental.
Brasil lidera produção mundial de nióbio
Dados do Ministério de Minas e Energia dão conta de que o Brasil é o maior produtor mundial de nióbio, com aproximadamente 89% do mercado global. Concentrada nos estados de Minas Gerais, Goiás, Rondônia e Amazonas, a reserva brasileira de nióbio é de 16 milhões de toneladas, de acordo com o Anuário Mineral Brasileiro (AMB).
Associado a outros minerais, o nióbio oferece uma gama de benefícios, como resistência à corrosão, melhor proteção térmica e condutividade. Um de seus principais usos é na fabricação de baterias de carregamento rápido. Quando adicionados a materiais como o lítio, os compostos de nióbio podem reduzir de horas para minutos o tempo de uma recarga em um veículo elétrico, por exemplo.
“A China domina esse mercado de materiais para baterias como o lítio, manganês, cobalto níquel. E o Brasil domina a tecnologia do nióbio. Nós precisamos cada vez mais fortalecer esse mercado, a cadeia como um todo. De um lado produzindo ímãs de terras raras para os motores elétricos, e de outro baterias mais eficientes e de carga mais rápida, tudo com material que antes era tratado como rejeito”, lembrou Pimenta.
St. George fechou parceria com grupo chinês para explorar mina em Araxá
E foi justamente com os chineses que a St. George fechou outro acordo, anunciado em 15 de janeiro. Um memorando de entendimento entre os australianos e o Grupo Fangda, referência em siderurgia e produção de equipamentos pesados para mineração, foi fechado para garantir a compra de pelo menos 20% da produção de nióbio no Projeto Araxá.
Em números absolutos, este total parte de mil toneladas do minério, uma vez que a expectativa da St. George é produzir 5 mil toneladas do minério em Araxá a partir de 2027. Para a direção da empresa, a parceria é um marco que confirma o baixo nível de risco da operação em solo mineiro.
Mas a aquisição das licenças da Itafos ainda precisa passar pela aprovação dos acionistas da St. George. Para tanto, uma assembleia foi convocada para o próximo dia 18, na qual os termos da aquisição serão discutidos entre os investidores. Além dos pagamentos em dinheiro, a mineradora australiana ofereceu uma participação de 10% de seu capital à Itafos.
Para convencer os acionistas a aprovarem a aquisição, a diretoria da St. George classifica a medida como uma oportunidade para que a empresa se torne um player global no mercado de nióbio. “A aquisição do projeto Araxá, localizado no cinturão global de produção de nióbio, é uma plataforma forte para alavancar e continuar no caminho de ser um player globalmente significativo no setor do nióbio e dos elementos de terras raras”, completa o comunicado, que recomenda a aprovação.