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As lavouras brasileiras estão se acostumando com a presença dos drones agrícolas de pulverização. Se há alguns anos esses equipamentos eram raros e com pouca capacidade, hoje se multiplicam e fornecem aos produtores reservatórios maiores, colocando dúvidas sobre o futuro dos aviões agrícolas, incluindo o Ipanema, o símbolo da Embraer para o agronegócio.
De acordo com levantamento da DroneShow Robotics, uma tradicional feira do setor no país, o número de drones agrícolas passou de 15 mil neste ano, um avanço de 25% em relação a 2024. A expectativa do mercado é de que esse número chegue a 50 mil até 2030. Por outro lado, o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), aponta que o país começou o ano de 2025 com uma frota de 2.088 aviões agrícolas.
Há uma distância considerável entre os aviões e os drones, principalmente em termos de capacidade. Enquanto o Ipanema 203, a versão mais recente produzida pela Embraer, pode carregar 1.050 litros de defensivos agrícolas, os drones mais usados no país não passam de 75 litros.
Esse cenário, porém, está mudando. Uma startup brasileira, a Psyche Aerospace, está desenvolvendo o Harpia P-71, com capacidade para 400 litros. Já voando pelo Brasil existe o Pyka Pelican, uma aeronave americana remotamente pilotada que leva 300 litros de produtos.
“Os drones, à medida que eles ganham escala, eles começam a ganhar produtividade para se tornar algo semelhante ao que temos na aviação agrícola tradicional, com hoppers [tanques] de grande capacidade para pulverizar das áreas”, explica o engenheiro aeronáutico e cofundador da AL Drones, André Arruda.
A empresa dele trabalha com a certificação de drones para os voos chamados BVLOS, sigla em inglês que significa "além da linha visual do piloto", ou seja, sem a necessidade de o piloto ver a aeronave para pilotá-la. Isso permite que os drones possam voar mais longe e cobrir áreas maiores para realizar a pulverização. Sem isso não há a mínima chance de competir com os aviões. “Os voos BVLOS são fundamentais para alavancar a produtividade e destravar o máximo potencial dos drones agrícolas”, reforça Arruda.
Hoje não há nenhum drone aeroagrícola autorizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para voos BVLOS. Ou seja, mesmo que o equipamento tenha capacidade para isso, os operadores brasileiros ainda não podem perder a aeronave de vista.
Embraer diz estar atenta aos drones agrícolas
O setor de drones profissionais entende que é apenas uma questão de tempo para que a capacidade aumente e que os equipamentos possam voar além da vista do piloto. A Embraer também sabe disso. O líder de aviação agrícola da companhia, Sany Onofre, falou para o AgFeed durante a Agrishow, no fim de abril, que 2030 pode ser um ponto de virada. “A partir dali depende das tecnologias que vão entrar [no mercado]”, comenta.
Segundo a fabricante brasileira, a unidade de Botucatu (SP) tem capacidade para fabricar até 100 aeronaves Ipanemas por ano. No ano passado, a empresa entregou 65 e o ritmo para este ano deve se manter na faixa entre 60 e 75 unidades. A Embraer avalia que poderia vender mais Ipanemas se houvesse maior disponibilidade de crédito no país, para que o grande produtor possa conseguir bancar não só os R$ 4 milhões da aeronave, mas também a sua operação e manutenção.
Enquanto vê os drones crescendo e a possibilidade de aviões agrícolas perderem espaço, a companhia garante que está atenta a novas tecnologias que estão surgindo, inclusive a possibilidade de investir em aviões agrícolas autônomos ou algum tipo de drone. Mas por se tratar de um mercado que exige muito investimento, a Embraer quer ter certeza que a tecnologia será confiável. “Ainda é caro para se ter uma coisa boa”, resume Onofre.
Em outro segmento, a Embraer está desenvolvendo um produto que, eventualmente, pode servir ao setor agrícola. É o eVTOL (veículo elétrico de decolagem e pouso vertical) da Eve Air Mobility, uma empresa que nasceu dentro da fabricante para criar uma aeronave de transporte de passageiros em área urbana — o primeiro protótipo deve voar ainda em 2025 e as operações comerciais estão previstas para 2028.
Apesar de mirar no mercado de passageiros, a aeronave da Eve é uma plataforma que futuramente poderá ser adaptada para outras aplicações, dependendo da demanda. Hoje, porém, a empresa não tem planos públicos nesse sentido. Outras marcas de eVTOLs, como a também brasileira Moya Aero, desenvolvem atualmente soluções para pulverização para rivalizar com os aviões agrícolas.
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